04 abril 2021

A FORÇA DO POVO

Nosso povo é guerreiro, esperançoso e persistente.

Nas adversidades, brilha com o humor possível, digerindo as dificuldades.

Quer ser livre, independente e ter suas próprias crenças.

A falta de estudo ou da qualidade do ensino formal não desestimula.

A afirmação da dignidade dá sentido à caminhada diária.

Supera provas nos transportes públicos, no domínio dos traficantes, na desídia dos governantes.

O nosso povo não cogita depender dos governos, mas recebe com apreço qualquer fatia daquilo que tem direito.

Quer receber pelo seu trabalho, quer crescer honestamente.

O sistema sonha com sua dependência passiva, para manter as estruturas corporativas.

Mas o povo evita, quer sua autonomia, andar de cabeça erguida.

Se lhe tolhem os braços, resistem.

Se lhes calam as vozes, digitam.

Se lhes cortam os meios, inventam e inspiram mudanças.

Não está escrito nas teses de mestrado ou doutorado.

Não está nos versos dos artistas consagrados.

Sua força está na integridade profunda, que inspira o futuro a cada dia.

Não se surpreendam com o nosso povo.

21 março 2021

SANEAMENTO BÁSICO

 

Uma pesquisa breve pelo SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) e pelo Painel do Saneamento (do Instituto Trata Brasil) nos revela o histórico descaso governamental sobre o tema.

Uma das informações apresentadas é o número de municípios sem delegação (que estavam com contratos vencidos ou inexistentes) para o tratamento de esgotos. São 182 cidades no Brasil, só na Bahia são 53.

Em termos de população sem coleta de esgoto, o Brasil tem uma carência média de 47%. Entre três estados importantes, uma grande discrepância: SP (10%), RJ (34%) e o RS (68%).

Segundo o IBGE (https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/bbc/2020/03/27/pula-no-esgoto-e-nada-acontece-brasil-tem-mais-de-300-mil-internacoes-por-ano-por-doencas-causadas-por-falta-de-saneamento.htm), o Brasil teve só em 2016 mais de 346 mil internações hospitalares causadas por falta ou inadequação do saneamento.

Para quem se interessar no assunto, existem muitos dados públicos e disponíveis nos endereços abaixo:

https://www.painelsaneamento.org.br/

http://www.snis.gov.br/diagnosticos

A carência de saneamento básico é a maior tragédia ambiental brasileira, origem da proliferação de doenças, de sobrecarga no sistema de saúde e de níveis vergonhosos de mortalidade infantil.

 

DEMOCRACIA

 

Você defende a liberdade de expressão?

Ou debocha quando a liberdade de expressão dos adversários é cerceada?

Você se importa com a morte de todos os líderes políticos?

Ou faz piada, quando a morte chega para representantes de outras correntes políticas?

Você é a favor de salvar vidas?

Ou apenas se a sobrevivência das pessoas atender a narrativa da sua corrente política?

Você defende a liberdade, e é contra o fascismo e o autoritarismo?

Ou apenas para sua classe social, pois você se omite diante da ditadura de narcotraficantes fortemente armados nas periferias brasileiras, que oprimem milhões de pessoas sob lei do silencio e toque de recolher?

Você realmente é a favor da democracia?

Ou um apenas quando a democracia lhe é conveniente?

20 março 2021

LIÇOES DE MARÇO

 

Nosso país vive um dos piores momentos da pandemia do COVID-19.

As veias abertas do nosso terceiro mundismo expuseram nossas deficiências educacionais, culturais, estruturais e governamentais.

Criamos expectativas de que, na crise, teríamos lideranças e instituições capazes de patrocinar um movimento sinérgico em nome da vida.

Nossas decepções e contrariedades, serviram de álibi para aprofundarmos divergências e escancararmos oportunismos e hipocrisias inúteis.

O momento é de atitudes com inspirações exclusivamente humanas e solidárias.

Nossa dignidade como sociedade precisa ser aperfeiçoada, para nos tornarmos merecedores de um futuro promissor.

A vida é o bem maior, e por ela, todos devemos nos empenhar, da melhor maneira que cada um possa contribuir.

Informações se multiplicam. Os exemplos estão bem do nosso lado.

Como diria Beto Guedes: “A lição nós sabemos de cor, só nos resta aprender”.

19 março 2021

SAÚDE PELO RALO

Assusta a todos a notícia de que as verbas públicas que são destinadas à saúde escoam pelo ralo da corrupção, da ineficiência e das fraudes contra o Estado.

Não que sejam surpreendentes. São comuns essas notícias.

O que intriga é a morosidade em corrigir, a desesperança em acionar judicialmente, a vergonha diante dos que padecem e morrem nas filas dos hospitais.
 
É preciso mais que voto para mudar a saúde, a educação, a segurança, a gestão da coisa pública.

É preciso participar, colaborar, comprometer-se individual e coletivamente.

(Escrito em 25/09/2012)


O DIREITO DE NÃO VOTAR

Diante da escassez de alternativas e das costumeiras polarizações dos segundos turnos eleitorais, a abstenção e o voto nulo costumam aparecer como válvula de escape.

Eleitores ressentidos por terem sido derrotados ou apáticos diante da pobreza de alternativas ficam diante de uma incógnita: fazer uma escolha que não agrada ou eximir-se de compromisso com a vitória dos grupos que chegam ao poder.

Existem argumentos para ambas as escolhas, e como sempre, não faltam aqueles que demonizam a opção desses eleitores.

Não julgo opiniões alheias. Entendo que é possível que as pessoas se sintam mal para fazer uma escolha entre dois candidatos apenas. Sobretudo, quando ambos simbolizam antecedentes tão desabonadores e pressupõem um voto de confiança num cenário de governo totalmente imprevisível.

Não se apresse, tenha calma. Se decidir não votar, deve ser compreendido, como quem escolhe um partido, um candidato ou um grupo político.

A democracia é assim. Cada um pode fazer as suas escolhas.

Em tempo: não estou defendendo que as pessoas anulem o voto, mas que respeito muito quem tomar essa decisão. 

(Escrito em 23/10/2018)

CAPACIDADE DE PENSAR

Já faz algum tempo que as “versões” são muito mais entusiasticamente difundidas do que os fatos reais.

Ao sabor das conveniências, as torcidas que se engalfinham nas redes sociais, escolhem se querem atacar ou defender princípios, valores ou instituições.

Aquilo que é inaceitável num momento pode ser adotado como estratégia de popularidade em outro.

A propagação repetitiva de narrativas que contradizem o senso comum, a elaboração de extravagantes teorias conspiratórias, as manifestações em momentos alternados, ora de força e ora de vitimização, são praticadas frequentemente pelas militâncias em busca de posicionamento no jogo do poder.

Os dirigentes que conduzem esses movimentos coletivos, não se envergonham em oferecer conteúdos sob medida para alimentar ódios e semear uma parcialidade insensível e irracional.

Tomara que, após a ressaca eleitoral, voltemos a dialogar de modo construtivo, produzindo novos conhecimentos e pontos de vista.

Já passamos da hora de sair das bolhas, para um diálogo a altura das possibilidades humanas: a capacidade de pensar, com tolerância e independência, respeitando e aprendendo com as opiniões dos outros.

(Escrito em 20/12/2018)

31 janeiro 2014

UM FUTURO PARA A MOBILIDADE URBANA


Sofrendo as constantes faltas de energia e de água combinadas com a onda de calor sufocante, a população da capital gaúcha experimentou na última semana a ausência dos transportes coletivos, causada pela greve dos trabalhadores do setor.

O direito de greve legítimo dos trabalhadores esbarrou na incompetência das autoridades públicas e na manipulação dos interesses pelo setor privado. A falta de ônibus só não causou caos mais intenso porque estamos em fevereiro, época em que muitos porto alegrenses estão veraneando no litoral e a maioria das escolas ainda estão fechadas.

Erguido em meados do século passado, o modelo de transporte coletivo de Porto Alegre se mantém intacto e ineficiente graças à ausência de licitações no setor, à incapacidade do Estado na formulação de um planejamento urbano consistente e à inércia dos movimentos populares e sindicais, que se acomodam na aproximação com o poder que emprega e remunera seus principais líderes.

Centenas de ônibus fazem irracionalmente os mesmos trajetos, enquanto áreas importantes da cidade são muito mal atendidas. Movidos pelo lucro, as empresas de ônibus urbanos não são exigidas como prestadores de serviços públicos essenciais, e se aproveitam do controle do mercado – associando-se aos lotações – para ditar as regras do sistema.

O Poder Judiciário impõe com uma mão, exigências para mediar a confusão entre a prefeitura, os empresários e os trabalhadores, e com a outra, avisa que não é responsável pela execução de tais decisões, causando insegurança entre as partes envolvidas.

Em meio ao impasse, perde-se a oportunidade de elaborar um plano para o futuro, que modernize o serviço de transporte urbano, qualifique a relação com o cidadão e racionalize a execução dos trajetos dos veículos, viabilizando maior conforto e rapidez para seus usuários.

Mais do que isso, é imperativo pensar em longo prazo, na descentralização das áreas geradoras de mão de obra, na desconcentração dos empreendimentos habitacionais e na viabilização de uma sociedade menos dependente do antiquado modelo de mobilidade urbana, herdado dos trens a vapor do século XIX, na época da revolução industrial.

Se, pelo menos, houver um debate criativo e qualificado sobre o futuro dos transportes coletivos urbanos – até o momento nada indica que ele acontecerá – o sofrimento da população de Porto Alegre na semana que termina, no calor das filas e espremidas em vans superlotadas, não terá sido em vão.

25 janeiro 2014

ROLEZINHOS

A agitação provocada pela movimentação de adolescentes nos shoppings brasileiros expõe a ausência de uma identidade nacional, condicionada por séculos de separação de classes, gêneros, etnias e regionalidades.

Justificativas diversas procuram – às vezes sim, às vezes nem isso – encarnar o politicamente correto, ainda que defendam evidentes argumentos de proteção de confortos e privilégios.

Figurando entre as maiores economias do planeta, o Brasil convive com atrasos seculares em seu desenvolvimento, concentrando a riqueza, a terra, a educação de excelência, o bom atendimento hospitalar, as condições mínimas de saneamento e organização urbana nas mãos de uma pequena parcela privilegiada.

A simples suspeita de que o templo do consumismo possa ter sua tranquilidade de redoma assaltada pela convivência inusitada com sujeitos de uma maioria apartada das riquezas ostensivamente midiatizadas, amedronta.

Uma caminhada pelo shopping, um evento de promoção da popularidade de adolescentes e namoricos combinados pelas redes sociais, transformou-se em crise institucional.

Empresários e líderes locais recorreram ao governo federal, tentando estancar a livre circulação das pessoas em nome de seus lucros, da sua segurança, da manutenção da “paz social”.

Sortudos, aqueles que concentram vergonhosamente as maiores riquezas do país, por meios nem sempre lícitos ou morais, ainda não foram incomodados pela grande massa que sucumbe a espera nos hospitais, que se aperta nos ônibus e trens urbanos e que não logra êxito no segregado sistema educacional brasileiro.

O jeitinho brasileiro, que se confunde com a capacidade de sobreviver com humor a toda sorte de injustiças e desigualdades históricas brasileiras, é, por certo, um dos pilares frágeis que sustentam a nossa “paz social”.


Agir para transformar o país em um lugar digno para todos os seus habitantes, com proposições inovadoras, práticas sustentáveis e atitudes menos preconceituosas é o que garantirá, a longo prazo, uma paz fundada na justiça e prosperidade para todos.

13 abril 2013

SER E EXISTIR

Vivendo em uma sociedade consumista, em que educação e cultura são subdesenvolvidas, e as garantias sociais são precárias, é difícil para a maioria das pessoas identificarem-se como seres humanos com características próprias, com talentos únicos, com perspectivas singulares de existência.
 
Todos somos absorvidos para um sistema genérico e massificado, que faz os indivíduos oferecerem a maior parte ou quase a totalidade de suas vidas em troca de estímulos financeiros superficiais que vão gradativamente substituindo a subjetividade criativa de cada um por uma objetividade árida e empobrecedora.
 
A normalidade do consumo descontrolado, da ambição por status, da celebração dos vencedores, induz ao processo de alienação do indivíduo da sua humanidade, da sua capacidade de ser solidário, agradecido, compassivo ou benevolente.
 
É preciso refletir sobre nossa essência, nosso talento, aquilo que nos faz diferente, porém partes de um todo. Olharmos para dentro de nós mesmos sem sentimentos de inferioridade, nem ambições de superioridade, apenas com a face de nossa singularidade.
 
Viver é estar consciente de ser, não apenas existir. No “ser”, não se pode acrescentar cargos, status, bens e dinheiro. O “ser” não pode ser substituído, removido, vendido ou cancelado. Mas pode ser preenchido, aperfeiçoado, enriquecido, ao longo de nossa trajetória recheada de lições edificantes.
 
Aproveitemos nossa jornada, preservando nossa integridade, nossa saúde, nossos valores, contribuindo para uma sociedade mais pacífica e menos egoísta.

07 dezembro 2012

BRASIL: COMPORTAMENTO CIDADÃO

 
            O que os meus amigos esperam refletir quando se dão conta que o Estado, o governo eleito, o Poder Judiciário e os representantes no Congresso constroem uma teia de cumplicidade e condescendência com a corrupção, com o tráfico de influência, com o loteamento de cargos públicos, com a apropriação dos recursos públicos?
 
            É minha intenção acalentar sonhos de evolução ética nos hábitos das pessoas, na conduta dos governantes, na integridade dos julgadores, na participação cidadã da sociedade, em cada núcleo social, familiar, corporativo ou sindical.
 
            Desafio-me a acreditar no futuro, em que pese a constatação de que nossos passos são curtos, nossas iniciativas de desenvolvimento sociocultural são modestas, nosso entusiasmo com a prevalência da solidariedade sobre o individualismo desfalece ao primeiro obstáculo.
 
            Urge sairmos da inércia, não para nos rebelarmos ou para reivindicarmos de outrem que adotem as posturas desejadas, mas para que nós sejamos exemplos coerentes e persistentes de uma convivência harmônica entre as pessoas de todas as classes, raças e opções políticas, preservando, sobretudo o bem comum.
 
            Um futuro melhor só será construído a partir das ações do presente, desde que fundadas na ética, na preservação dos valores humanos, no compromisso com o que é público, na promoção do desenvolvimento solidário e responsável.

23 maio 2012

O ESPORTE PREFERIDO

Um dos piores hábitos construídos com o passar dos anos em nosso país é o crescente afastamento de pessoas capazes e bem intencionadas, do exercício da política partidária. Não que os partidos atuais e o modelo de governabilidade negociada sem carimbo ideológico estimule o cidadão comum a participar de qualquer agremiação política.

O problema é que quem abre mão de participar, deixa espaço para outrem, delega suas responsabilidades individuais com a gestão pública àqueles que constroem carreiras apropriando-se do espaço do cidadão, como fazem os guardadores de automóveis (flanelinhas) no espaço urbano das grandes cidades. Se a área não está demarcada, nem ocupada, eles tomam conta. E cobram por isso.

Os políticos, em sua maioria, não se prepararam para essa carreira. São ejetados do povo, das associações de classe, dos meios de comunicação, dos contingentes midiáticos, da vizinhança ativa. Para o bem ou para o mal, saem do convívio familiar, do ambiente regional e das circunstâncias profissionais para se dedicarem a rituais pouco atraentes, a despeito das potencialidades do papel de legislador e da influencia da interlocução institucional.

Um debate sobre a eficácia republicana brasileira, com suas estruturas defasadas e tradições colonialistas fica fora do alcance da política instrumental e imediatista. A manutenção do atual modelo agrada a quem se utiliza dos mecanismos de pressão e compensação para legitimar a obtenção de vantagens, sob a fachada de exercício democrático.

À resignação do tipo “isso não é comigo”, somam-se as generalizações como “os políticos são todos corruptos” ou “eu não vou votar em ninguém”. O resultado é que alguém ocupará os cargos públicos, com maior ou menor representatividade, a depender do modo como a sociedade o escolheu.

O esporte favorito do brasileiro não é o futebol, é a mania incansável e descontraída de criticar os políticos. Como todos sabemos os políticos não são extraterrestres. Eles são pessoas como nós, ocupando os cargos para o qual nós os escolhemos.

Na hora de votar – ou de não votar – pensemos nisso. A eficiência da saúde pública, a qualidade da educação, a segurança e a estabilidade econômica não são apenas partes de um jogo descompromissado, mas as bases para um desenvolvimento sustentável para nós e para as próximas gerações.

06 maio 2012

EMPREENDEDORISMO

A educação é um poderoso instrumento de construção de um futuro melhor para o país, ninguém discorda. Para a tarefa secular de produzir prosperidade no país não podemos prescindir de certas características, que devem ser adotadas pela população que pensa, trabalha e administra esse desenvolvimento.

O empreendedorismo é uma dessas características indispensáveis. Trata-se de criar oportunidades a partir das pessoas, dos bens naturais e da infraestrutura disponível. Requer disponibilidade pessoal, visão e capacidade de inovar. São habilidades que podem ser desenvolvidas, estimuladas na formação curricular, incentivadas pelo Estado.

A destacar a constatação de que quando falamos de empreendedorismo, não nos referimos apenas àquela ação originada na iniciativa privada, que move as empresas e os empreendedores individuais.

O empreendedorismo é útil e necessário em todos os setores e atividades da sociedade. A atitude empreendedora mobiliza pessoas e recursos na gestão pública, no terceiro setor, nos mais variados segmentos.

Exemplos disso emergem nas mais distantes comunidades, sem quaisquer combinações entre elas. Prefeituras que promovem os produtos característicos dos municípios, diretores de escolas que apresentam trabalhos diferenciados em suas escolas com os mesmos recursos das demais, entre tantos outros exemplos que tomamos conhecimento frequentemente.

São agentes de transformação, que empenham energia e criatividade para oferecer a sociedade produtos de maior valor agregado e serviços públicos de melhor qualidade.

O empreendedorismo não combina com mesquinhez, com apego a ideias preconcebidas, com isolamento da comunidade global, com vantagens obtidas através de custos para a coletividade. Ética, solidariedade e respeito à diversidade enriquecem a cultura empreendedora e semeiam melhores condições para a prosperidade.

Há amplo espaço para que o empreendedorismo se desenvolva. Somos um país rico em recursos naturais, privilegiado em sua complexa multiplicidade de raças, e repleto de carências, cujos impactos afetam as mais primárias condições de sobrevivência em algumas regiões.

Temos problemas abrangentes nas áreas da saúde, educação infantil, segurança, infraestrutura, habitacional, agrícola, e muitos outros. Em todos eles, pessoas, entidades não governamentais e lideranças políticas já deram exemplos de que é possível inovar, transformar, construir novas realidades.

O desafio é disseminar essas experiências, fomentando na sociedade o valor das lideranças individuais colocadas a serviço dos resultados coletivos.

29 março 2012

EDUCAÇÃO E EXEMPLO

É comum afirmarmos que o principal problema social é a educação. É provável que essa afirmação exprima variados significados, sendo que o mais aceito é o que identifica que falta educação para os outros, ou que falta educação por causa de outrem.

Políticos, que são encarregados de legislar e governar sobre tudo e todos - inclusive sobre educação - demonstram notável falta dela, especialmente aquele sentido familiar e comportamental, baseado em princípios e valores morais.

No solo gaúcho, oposição e situação mudam suas convicções sobre a remuneração dos educadores, baseados simplesmente numa espécie de mercado demagógico eleitoral.

Para os que estão na oposição, os governantes não remuneram bem os professores por sadismo, uma vontade despudorada de malfazer aqueles que educam seus próprios eleitores, uma falta deliberada de “vontade política” (termo que se tornou jargão nos anos 80) vez que os cofres públicos estão cheios e fartos de recursos.

Basta uma eleição que resulte em descontinuidade e logo se esvaem as manifestações esbravejantes. Ao assumirem a gestão pública, os que antes gritavam em defesa dos salários, enfrentam outros desafios,

Os cofres não estão abarrotados de dinheiro, as demandas que chegam ao gestor são de variadas urgências e as decisões sobre o destino dos poucos recursos que não estão previamente comprometidos, são disputados por diversas corporações que tentam interferir – legitimamente, muitas vezes - a seu favor, e as premências se espalham também nas áreas da saúde, saneamento, estradas, agropecuária, entre outros.

A impertinência descompromissada com a realidade faz professores e opositores embarcarem na insensatez disfarçada de inocência: quem foi eleito para governar que resolva os problemas. O papel da oposição e das corporações é reivindicar, protestar e preparar o caminho para a retomada do poder na próxima eleição.

Essa cronologia anunciada e repetida nas ultimas décadas faz do nosso estado um notável exemplo do que não é prática educativa. O que vemos é o descompromisso com os outros (setores da sociedade), a falta de integridade nas relações e atitudes, o fisiologismo e oportunismo eleitoral, a luta por vantagens descoladas da realidade econômica e social da maioria, a grenalização da política.

Os políticos, e os professores que entram nesse jogo, dão péssimo exemplo de educação em seu sentido mais profundo. Gostaríamos que os jovens forjassem seu futuro com conhecimento e aptidão técnica, sustentados por valores como a verdade, a solidariedade e a convivência democrática.

Para isso a sociedade deve entrar em cena, rever conceitos e atitudes, rejeitar o que está estabelecido para construir o novo, com novas ideias, tendo como finalidade o bem estar de todos.

11 fevereiro 2012

A HUMILDADE

A humildade é a base indispensável para as outras virtudes. A humildade é moderada, diante das atitudes intempestivas. A humildade é respeitosa, frente aos mais experientes.

A humildade é generosa, quando dispõe de seus valores mais nobres. A humildade é silenciosa, em meio as palavras ditas para impressionar.A humildade é modesta, despercebida entre as vaidades e as extravagâncias.

A humildade é uma fonte de sabedoria, para aqueles que têm muito a aprender. A humildade é força pessoal, para aqueles que almejam grandes objetivos. A humildade é resignada, se não pode mudar o arrogante e o prepotente.

A humildade é simples de ser praticada e sensível aos que a rodeiam. A humildade enriquece os relacionamentos, inspira os mais jovens. A humildade surpreende os adversários e derrota sua fúria.

Antes de dizermos “eu te amo”, reconheçamos a singularidade do outro. O amor não é possessivo, não busca seus próprios interesses, não existe para si mesmo. Antes de amar é preciso ser humilde.

Acolher as diferenças, entender os gestos, ouvir sem julgar. Admitir que fazemos parte de uma mesma humanidade, com todas as suas imperfeições. E que somos cúmplices de uma mesma jornada, buscando o nosso melhor.

13 julho 2011

POSSUIR E PERDER

Quando a criança chora porque o seu doce foi comido pelo irmãozinho, ou quando reclamamos na hora do pagamento dos impostos, o sentimento é o mesmo: estão sendo subtraídas as minhas posses.

Livre e explorador por natureza, o homem civilizado, ao longo dos séculos, tratou de demarcar terras, erguer muralhas e levantar cercas.

Ricos e pobres distinguiram-se pela quantidade e qualidade dos bens que foram acumulados no interior de cada propriedade. Roubar, perder, subtrair, são conceitos subseqüentes aos de pertencer, tomar posse, acumular.

O apego à propriedade individual é um despropósito em si mesmo, pois alimenta o culto às diferenças individuais estabelecidas pelos bens materiais, enquanto reduz os objetivos de vida de todos na sua conquista.

À desumana fonte de preocupações econômicas, some-se o escárnio das desigualdades produzidas contra os mais pobres, ou ao deboche, dos que usam o poder para ganhar mais, à custa do sacrifício e desvio do alheio.

Engajados em um sistema de consumo permanente, tornamo-nos vítimas da busca incansável e da satisfação inatingível.

E nos sentimos realmente incomodados quando percebemos pessoas vivendo em desacordo com o sistema, ricas em sensibilidade e prósperas em dignidade, menosprezando as regras estabelecidas, ignorando as cercas que erguemos, subvertendo a nossa resignação.

Não choremos pelo doce que nos foi subtraído, mas pela constatação de nossa falta de humanidade.

21 abril 2011

AOS MURROS E PONTAPÉS


Cada vez que uma professora é agredida numa escola, podemos nos perguntar: onde foi que erramos? Desde quando isso passou a acontecer?

A resposta não é simples. Muitas coisas mudaram, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Nossos modelos tradicionais de convívio social, de formação humana, de estrutura familiar estão indubitavelmente abalados.

As expectativas para o futuro reprovam um retorno ao passado, mas caminham para o estabelecimento de parâmetros novos, de relações menos enraizadas, sob valores mais universais e menos morais.

Na escola e no ambiente das salas de aula as pessoas não se comportam de forma isolada dos costumes da sociedade.

E a perda de referências de autoridade na família, no trabalho, na escola, infelizmente, é uma dinâmica social mais ampla, que não será revertida por práticas pedagógicas ou por voluntarismo dos esforçados professores.

É preciso muita reflexão acadêmica, muita humildade investigativa, muito diálogo público, para que se aspire encontrar alguns pontos de convergência entre a sociedade que almejamos e o estágio em que nos encontramos.

A melhor maneira de evoluirmos, entendo, está em nossa capacidade de articularmos experiências práticas e conhecimento científico.

Urge deixarmos de lado as preferências partidárias, as vinculações mercantilistas e as simplificações ideológicas.

Educação é atividade complexa, de inúmeros significados, construída a partir da história das civilizações, das ciências sociais e da contextualização do ser humano no espaço e no tempo.

Não é tarefa para amadores.

Dar educação, na escola e na família, é formar pessoas, dotadas de valores e de responsabilidades, donas de aptidões e da capacidade de fazer escolhas.

E para enfrentar a vida, não queremos escolher os murros e pontapés, mas a gentileza, a solidariedade, a possibilidade de nos unirmos nas convergências e negociarmos as divergências.

É o que se espera de um país educado e preparado para o convívio global.

06 abril 2011

LIÇÕES JAPONESAS


A recente catástrofe do tsunami no Japão foi exposta nos meios de comunicação à exaustão, por um enorme repertório de meios digitais e eletrônicos utilizados pelas mídias interessadas comercialmente.

As imagens chocantes e os ângulos extraordinários transformam em espetáculo do horário nobre, o drama de milhares de orientais em sua escalada diante de adversidades raramente dimensionadas.

Mais forte do que o visual “spilbergiano” de muitas cenas, é o conteúdo humano das atitudes percebidas no momento da dor e da compaixão, da angustia e da tênue linha da sobrevivência, da solidariedade indispensável e da sensatez inesperada.

A solidez dos valores da sociedade milenar japonesa atua de modo discreto, mas reforça a impressão de que a aparente ocidentalização que mudou a ilha nos anos 80 é uma concessão secundária que permitiu a inserção do país no mercado global, longe de alterar seus costumes e regramentos essenciais.

Diferentes idades, gêneros, origens de classe, não estabelecem diferenças na compreensão fundamental de que o país, a nação, a comunidade estão acima dos interesses individuais, egoístas, personalizados.

O heroísmo protagonizado por homens e mulheres para salvar vidas, sem perder a dignidade e a compostura, diante de tremores de terra intermitentes desafiam a contumaz intolerância a riscos, e a impaciência com os necessitados e menos afortunados, tão presentes no nosso cotidiano.

Quando todos os debates decorrentes desses eventos rumam com certa prudência para questões ambientais, é preciso apreciar as lições históricas que podem ser extraídas desse episódio, em suas dimensões culturais, antropológicas, humanas.

Um país de extensão restrita, estrutura geológica desfavorável, devastado por guerras e tsunamis, resiste a tudo com uma bravura temperada pela guarda da honra, do respeito e da esperança no futuro.

Que as águas do mar revolto lavem as feridas que acometem nossa sociedade, não causada pela força das intempéries, mas pela banalização do consumismo pueril, fonte de ambições desmedidas e indiferenças fatais.
(Debatam comigo pelo e-mail fialhodefialho@uol.com.br)


08 março 2011

O CARNAVAL DOS CICLISTAS


As manifestações que se espalharam pelo mundo afora, após o atropelamento de vários ciclistas em Porto Alegre podem ser o toque que faltava para uma evolução no debate da questão atualíssima da mobilidade urbana.

No planeta inteiro, pedestres e veículos de todos os portes convivem em condições desiguais, e provocam dores de cabeça freqüentes nos governantes locais, que tem posturas muito controversas para tentar resolver ou amenizar os problemas latentes.

Isoladas ou mistas, são muitas as iniciativas adotadas em prol da harmonia dos atores que se movimentam nas cidades: expansão de trens e metrôs, oferecimento de transporte público com maior conforto, cobrança de pedágios em zonas centrais, construção de passarelas e ciclovias, recuperação de calçadões, estabelecimento de rodízios para uso do veículo particular, entre outras.

No Brasil, a resposta do governo à crise econômica que se alastrou nos países desenvolvidos nos últimos anos, foi o incentivo à produção e universalização do carro novo, estratégia de sucesso acompanhada da expansão do crédito, que aqueceu o consumo e gerou empregos a partir das montadoras e das demais empresas que acompanham o desempenho da indústria automobilística.

O crescimento geométrico do numero de automóveis nas estradas e avenidas aprofundou a crise do transito nas grandes cidades e esgotou a já deteriorada malha rodoviária existente.

A complexidade do desafio a ser enfrentado está na concepção de que há um espaço público a ser ocupado, e que nele devem se movimentar as pessoas, independentemente da condição ou da opção de utilizar um veículo para isso.

Ao “colocarem o bloco na rua” os ciclistas alertam para a necessidade de um enfoque mais humano nas decisões que afetam o desenvolvimento e a mobilidade urbana.

Os pedestres se associam ao “samba enredo” dos usuários das “magrelas”, pedindo mais consideração e respeito pelos que trafegam motorizados e pelos que definem as políticas publicas.

Que o movimento de retorno do carnaval, traga uma “evolução” esperançosa para o debate, precursora de uma “harmonia” nas ruas das cidades, digna de uma civilidade saudável para todos.


22 fevereiro 2011

LIÇÕES DO EGITO

As revoltas populares que agitam a África e o Oriente Médio prenunciam novas instabilidades no cenário político internacional e nos instigam a refletir sobre o futuro.

A África historicamente colonizada e explorada por nações européias, busca novas alternativas para seus Estados – a ambição de serem protagonistas de um mundo cujas cartas estão dadas há séculos.

O modelo anglo-americano de exploração e consumo está em cheque: os recursos naturais do planeta agonizam, as gerações conformadas se insubordinam, as políticas tradicionais se exaurem.

Culturas milenares e alheias ao capitalismo ocidental tornaram-se centrais na nova configuração econômica e os velhos modos de negociação e comércio estão sendo repaginados.

O vigor cultural de religiões desprezadas pela modernidade ocidental sedimenta a integração dos cidadãos em luta ética por governos mais sérios.

Os avanços tecnológicos no mundo das comunicações imediatas potencializam os efeitos das intervenções coletivas, e disseminam suas motivações pelo mundo afora pelos pequenos, mas interconectados aparelhos eletrônicos.

As lições do Cairo ainda terão que ser melhor estudadas, e os pretensos parâmetros que norteiam as decisões mundiais deverão levar em conta os novos sinais que vem do intangível, do virtual e das possibilidades instantâneas.

Os indivíduos interagem entre os hemisférios, vencem as distancias em segundos e estabelecem novos horizontes na concepção de Estado, na definição de mundo, na convivência planetária.

Compreender as dificuldades para interpretar as novas relações sociais é um passo fundamental para a elaboração de proposições para o futuro da nossa sociedade.

É preciso retomar as incertezas ideológicas e questionar as convicções econômicas à luz das novas experiências humanas nesse contexto de grandes transformações.

18 janeiro 2011

DRAMA E REALIDADE

Ano após ano se repetem as tragédias na região sudeste brasileira. A época do ano, os locais de risco, a situação dos rios e encostas, a precariedade das habitações periféricas e ribeirinhas, as explicações dos políticos nas diversas esferas governamentais: todas as circunstâncias, os atores e os seus papéis nesse drama da vida real são plenamente conhecidos de todos nós.

Como todo enredo dramático, está recheado de cenas chocantes, de ações miraculosas, de fatos surpreendentes e bizarrices que contornam o assunto principal e distraem o espectador mais atento.

Mas isso não é uma ficção.
 
Políticas públicas são postas em prática ao longo dos anos para gerar resultados no médio e no longo prazo. Destinar alguns milhões de reais para socorrer os locais atingidos pelas chuvas não resolve o problema.

Fala-se em modernos sistemas de monitoramento, caros e de alta tecnologia, para previsão das intempéries de alto risco. Esquece-se que a época das chuvas é sempre a mesma, e que prever a chuva com quarenta e oito horas de antecedência não solucionará as deficiências de saneamento, urbanização, moradias construídas a beira dos rios, monitoramento cotidiano da Mata Atlântica, entre outras ações que os técnicos do Estado há muito vem alertando os grupos políticos que se revezam no poder há muitos anos.

De toda essa lama, salva-se a solidariedade, tão bem protagonizada pela população brasileira, e tão mal aproveitada para a construção de uma cultura de preservação da saúde, de aperfeiçoamento educacional, de hábitos sustentáveis.

01 janeiro 2011

ANO NOVO DEMOCRÁTICO

O novo ano coincide com a posse dos novos governantes estaduais, parlamentares estaduais e federais, e da presidenta da república.

Trata-se de um novo ciclo do exercício político partidário, cujas eleições a cada dois anos, envolvem em uma aparência de rotina o que precisa ser vivido com intensidade e relevância.

Mais do que uma obrigação civil, o voto obrigatório encaminha a convivência democrática, que sintetiza responsabilidades e desafios de eleitos e eleitores.

Projetos políticos disputaram a preferência da população nas urnas, e agora, movida pelo mínimo de coerência de seus autores e defensores, devem ser implementados já que vencedores são.

Eleição não é o fim da democracia, mas um meio, um instrumento fundamental. Um ponto de conexão entre passado e futuro; quando o experimentado torna-se referência para o que se aspira alcançar.

Estagnação, crescimento, euforia ou desespero, não determinam a importância do momento eleitoral. Nem a normalidade, nem o caos devem orientar a participação cidadã, a reflexão cívica, a atividade social.

Programas partidários, modos diversos de governar, expectativas de futuro para a sociedade, são as motivações que nos fazem acreditar nas instituições publicas dirigidas por representantes eleitos constituídos, formados e preparados na sociedade, a imagem e semelhança de todos nós.

No momento, é o melhor modelo de organização que temos. Nosso papel é acompanhar, participar quando possível e principalmente, compreendermos o peso real do nosso voto.

02 novembro 2010

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS 2010 - OS CANDIDATOS

O resultado da eleição presidencial é a soma de um conjunto de circunstâncias que os cientistas políticos devem esmiuçar com afinco, procurando compreender os recados que os eleitores deixaram nas urnas.
 
As candidaturas mais importantes têm origem em decisões estreitas, tomadas sob a influencias de crises significativas nas relações políticas.
 
O fenômeno Marina Silva, que se constituiu em uma terceira força expressiva e carregada de idéias ambientais contemporâneas, emergiu da crise operacional do governo, ante o impasse de implementar obras de grande impacto econômico e, ao mesmo tempo, atender aos compromissos com a sustentabilidade social e ambiental.
 
Serra, acumulou fardos difíceis de serem carregados: para ser o candidato de seu partido precisou alijar da disputa Aécio Neves, um governador com grande popularidade no segundo maior colégio eleitoral do país; os partidos de oposição não conseguiram apresentar nenhum projeto diferenciado, chegando à esquizofrenia de misturar a defesa da continuidade dos programas do governo Lula, ao mesmo tempo em que silenciaram sobre o desempenho dos governos do PSDB com Fernando Henrique Cardoso.

A própria presidente eleita Dilma Roussef foi alçada a condição de candidata da situação após uma tempestade de denuncias e escândalos que envolveram os principais lideres do PT histórico. Esses acontecimentos forçaram o presidente Lula a utilizar toda sua criatividade e prestigio político, dando luminosidade a uma personalidade política de solidez democrática e administrativa, porem, sem popularidade, nem carisma.
 
Além de Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Sergio Cabral e Tarso Genro, são alguns dos nomes que poderão voltar a cena, para a escolha dos candidatos em 2014.
 
Espera-se, por seus próprios méritos, pela envergadura de suas atuações, pela riqueza de currículos, e não como representantes de uma política formulada em jogadas de bastidores, e de poucos atrativos, como vimos nas ultimas eleições.

14 setembro 2010

FONES DE OUVIDO

Os fones de ouvido são discretos, não tem muito espaço na mídia, sua fórmula de fabricação não parece ter sido alvo de grandes transformações nos últimos anos – pelo menos para um leigo.

Num tempo de tantos recursos eletrônicos, associados com equipamentos de informática e comunicação de última geração, que importância daríamos àquele “fiozinho” que termina em um ou dois minúsculos alto falantes, que encaixamos no ouvido?

Na verdade, eles dizem muito sobre a nossa civilidade atual. Ou você nunca teve que bater no ombro de um filho, para pedir atenção, enquanto ele, distraído, ouvia sua música particular? E o morador do prédio, que já entra no elevador ouvindo música, deixando pra lá os cordiais cumprimentos ao seus vizinhos?

Vivemos em um paradoxo colossal: estamos tanto mais interligados mundialmente que não queremos mais conversa com nosso vizinho.

Na nossa abstração tecnológica, o mundo está em nossas mãos, mas não precisamos nos importar com ele. Buscamos na rede o que nos interessa, falamos para muitos e ouvimos ninguém, exploramos recursos infinitos sem que nos peçam qualquer contribuição. Tudo ali ao nosso alcance.

Tudo? Claro que nasci na geração que não acha que o mundo virtual é tudo, mas é bem provável que os novos ocupantes do planeta gradativamente passem a pensar assim.

Ainda preciso conversar com o vizinho, com o porteiro do prédio, dar bom dia aos colegas quando chego no trabalho, enfim, ainda não me retirei para minha bolha virtual.

Sei que algumas pessoas não gostam de muita conversa, mas muitas precisam ser ouvidas. Para mim, é óbvio que se cada um se retirar para sua sessão particular de música, todos os objetivos da humanidade sucumbem em questão de horas.

Mas mesmo assim, vou procurar me harmonizar com os fones de ouvido. Eles não existem para nos separar, não é mesmo?

15 agosto 2010

CICLOS

A superação de obstáculos é uma parte de uma jornada maior, que teve um inicio e terá uma linha de chegada, nunca como fim, mas como seqüência para outra etapa.

Acontece com os rios, com as plantas, com os animais, com as pessoas, com o planeta.

As crianças nascem chorando, lutam para sobreviver num mundo sem a proteção do útero materno, enquanto aprendem a lidar com as coisas e as pessoas que o cercam.

A adolescência marca a passagem de uma experiência familiar e de expressão individual para uma convivência social adulta, em que as palavras têm que ser medidas, os gestos devem ser pensados, os caminhos precisam ser planejados.

Superadas as fases de transição, o novo traz uma perturbação singela sobre o que fazer diante do mundo que foi descortinado após o novo ângulo de visão.

É nesse momento que os indivíduos fazem escolhas, adotam atitudes, decidem caminhos.

A melhor preparação para o momento de escolher, é viver bem em cada etapa, com a intensidade de quem quer aprender, e com a tranqüilidade de quem sabe que algo novo sempre está por vir, se não interrompermos o ciclo natural da vida.

Não há motivos para nos agarrarmos ao estado atual. Não é inteligente deixarmos tudo para depois. O presente é o nosso palco.

Lamentar o que passou não leva a nenhum lugar. É aqui e agora que podemos aprender e compartilhar, preparando cada momento novo. Em cada dia, somos chamados a repetir o ciclo da generosidade e da esperança, para almejarmos dias melhores.

09 julho 2010

O CASO BRUNO

A exploração maciça e detalhada pela mídia do assassinato da modelo Elisa Samudio é suficientemente rica para vislumbrarmos os detalhes novelescos e macabros que envolveram essa tragédia.

No centro dessa trama perversa estão elementos reveladores das perturbadoras deficiências ocultas da nossa sociedade, essas sim, dignas de nossa reflexão.

Num país em que a carreira de jogador de futebol é a aspiração de pais e filhos a uma vida de altos salários e prazeres sociais, a educação formal e a solidez de caráter são comumente deixados de lado. Semelhante é o caminho trilhado por muitas das meninas que se aventuram em busca de conforto e dignidade, na carreira de modelo.

Tais posturas são facilmente adotadas, quando as alternativas disponíveis são as permanentes pressões dos traficantes de drogas cooptando meninos para atividades ilícitas com recompensas sedutoras, ou a via da educação formal e do trabalho duro, bem menos atraente.

Descolando-se materialmente das suas realidades de origem, jogadores, modelos e outros heróis emergentes absorvem as piores lições daqueles que ora os incensam, ora os desprezam, segundo interesses fúteis e imediatos.

Detestável e irrelevante abordar o fascínio dos jovens das periferias pelas facilidades e imagens de poder despertadas pelos criminosos nas comunidades, e as inevitáveis relações amistosas existentes na convivência local, desde a infância.

Frustrante como nação é percebermos que as instituições mais importantes, sobretudo a escola, são insuficientes contra a dilapidação das mentes e a banalização dos valores que ocorre através das mídias, das artes, do ilícito e do chamado comunitário.

A simbiose desses vazios culturais conflitantes vai corroendo a convivência social, diminuindo a capacidade de intervenção do estado e desestruturando famílias por toda a sociedade.

Como sempre, nessas ocorrências nefastas e perturbadoras para o jantar na frente da TV, aparecerão os críticos dos salários dos jogadores, da falta de punição para menores criminosos, da necessidade de leis mais duras, entre outras.

O tempo apaga as urgências de hoje e cria novos entretenimentos. A hora é de aproveitar a oportunidade de reflexão sobre nossas deficiências, como pessoas civilizadas e como sociedade, ao invés de esperarmos para nos fingirmos surpresos, na próxima tragédia.

20 junho 2010

A ERA DUNGA

A crônica jornalística viu poucas vezes na história recente um personagem tão rico em estereótipos e motivos para inspirar um texto.

 
Pejorativamente falando, tínhamos o presidente Fernando Collor e sua ministra – como é mesmo o nome...? – Zélia, no início da década de 90. Rendiam bons textos, sobre como apunhalar um povo inteiro, e fazer isso parecer normal.

 
Outro líder político – se é que podemos chamá-lo assim – que sempre arregimentou cargas de adjetivos de segunda classe foi Bush, o presidente americano que deu de ombros para a paz mundial, e fez as famílias americanas reviverem os dramas de guerra, que não viviam desde o Vietnam...

 
Atualmente, para nós, o personagem de todas as crônicas é Dunga. Não só de todas as crônicas, mas de todas as conversas de bar, de elevador, de padaria, de corredor do escritório, de motorista de táxi.

 
Nem ele, nem psicólogo algum, consegue explicar o motivo de tão intensa e permanente acidez. Tudo bem, ser técnico da seleção brasileira é uma responsabilidade enorme, todo mundo dá palpites, a mídia ao redor o tempo todo, o Brasil sempre entra com obrigações de vencer, tudo isso é verdade.

 
Mas o Dunga não sabia disso, ao assumir a seleção canarinho?

 
Sabia, e ao que parece adorou a idéia. Ele aproveita muito bem a oportunidade de destilar o seu mau humor em cada entrevista, em cada treino, em cada jogo. E o que motiva esse comportamento:

 
Revanche por ter sido injustamente responsabilizado pelo fracasso da copa de 90 como a “era Dunga”?

 
Sarcasmo por ocupar uma posição onde tantos treinadores competentes e experientes mereceriam estar, e mostrar bons resultados?

Deboche diante da impaciência do torcedor e dos jornalistas com a mediocridade do futebol que ele coloca em prática?

 
Ganhando ou perdendo, sendo campeões ou voltando antecipadamente para o Brasil, nunca iremos entender claramente o que torna um ser humano tão vitorioso, com carreira profissional de sucesso, de caráter respeitado, num verdadeiro Dunga, que de agora em diante significa mal humorado, rancoroso, ácido.

 
Mas de uma coisa sabemos: Dunga é a inspiração permanente para textos irônicos, cronistas atentos e receitas de como não se comportar diante dos outros.
 

01 maio 2010

VALORES E CONSUMO


Se você olhar para fora de você mesmo, irá encontrar uma interminável oferta de distrações, futilidades e guloseimas que lhe transmitirão a doce ilusão de que tudo se resolve num passe de mágica, ou como se saborear um pedaço de chocolate – verdade que é saboroso – tornasse a vida mais completa e significativa.

Nunca é demais lembrar que o sistema em que vivemos alimenta-se de consumo, e produção, para mais consumo. Tornar-se parte dessa sociedade é consumir – porque e para que ainda não sabemos bem...

Estou longe de ser um rebelde anti-capitalista ou um defensor da vida monástica, mas não posso ignorar que estamos nos afastando das mínimas reflexões que nos tornam diferencialmente humanos.
Comportamento ético, solidariedade, educação e formação do caráter das crianças, e até responsabilidade ambiental – que é a última moda em exposição aos holofotes – vão sendo postas em segundo plano, sob o poder de uma "religião" do consumo, da freqüência aos shoppings, da imediatização das novas tecnologias, da infindável busca de se identificar com a originalidade, que nada mais é do que uma repetitiva formavel busca de se identificar com a originalidade, rendendo-se a padronização do comportamento coletivo.

Experimentemos olhar um pouco para o interior de nós mesmos, onde a moda e a quantidade de objetos que temos não tem nenhum valor. É aí que encontramos a verdadeira identidade, e de onde podemos extrair o melhor, para nós mesmos e para os que nos cercam.

12 fevereiro 2010

O PAPEL PROFISSIONAL

A complexidade do ser humano, especialmente para nós, leigos, é formada por uma misteriosa e diversa quantidade de conceitos, teses, pesquisas de campo e argumentações teóricas.

Quando o assunto é o nosso papel profissional, as atitudes e os comportamentos que nos acrescentam ou nos destroem, o que vemos é uma grande quantidade de “gurus” capazes de promover entusiasmos aparentes, suscitando a falsa idéia de que palavras mágicas respondem nossas indagações profundas.

A difícil formulação de alternativas para as complicadas relações que se estabelecem no meio corporativo remete o enfrentamento das dificuldades para além das iniciativas eventuais, do empirismo utilitário, das convenções empresariais.

Na verdade, o centro irradiador de um ambiente menos hostil e mais prazeroso nas relações familiares, sociais, de negócios, é o próprio ser humano.

E o ser humano capaz de liderar pessoas, irradiar solidariedade e inspirar sonhos, precisa ser formado nas suas concepções mais íntimas, ser informado das suas limitações exteriores, e persistentemente buscar descobrir a si mesmo e seu papel nessas interações.

A possibilidade de aprofundamento do papel do homem na sociedade e dos desafios impostos pela sua atuação define o grau de habilidades e dificuldades que será encontrado. O balanceamento desses fatores é a fonte do stress contemporâneo.

Ser líder nos dias de hoje requer coragem, humildade, empatia e integridade. Coragem para agir, humildade para reconhecer falhas, empatia para aceitar o outro, e integridade para viver a própria essência.

Por tudo isso, ler “Terapia do Papel Profissional” de Paulo Gaudêncio, é mais do que uma leitura em busca de novos conhecimentos, mas um exercício de reflexão interior, de afirmação pessoal.

As nossas atitudes básicas em relação a vida e aos outros pavimentam nossa saúde mental, psicológica e física. Os valores que norteiam nossos caminhos podem definir a grandeza das nossas relações com as pessoas e o meio ambiente.

Conhecermos a nós mesmos. Desenvolvermos nossas habilidades. Compreendermos nossos semelhantes. Um bom aprendizado para nossa experiência humana e nosso desempenho profissional.

17 janeiro 2010

O DESAFIO DA VIDA

A vida por um fio. A vida num segundo. A luta pela vida. Só os fortes sobrevivem. Viver é uma grande aventura. Viver, e não ter a vergonha de ser feliz. Viver a vida...

Para uns, a vida é uma alegria, um prazer. Para outros, um grande desafio. Para os que gozam os bons momentos da vida, e a levam leve, a vida é rica, numerosa. Para os outros, um fio de vida pode ter grandes e diferentes significados.

Um minuto pode ser o tempo para escapar de um desabamento, o suficiente para não ser atingido por escombros. Um segundo, pode ser o instante exato para evitar uma colisão num automóvel ou para não ser atropelado.

O tempo para se ganhar ou perder a vida não é previsível. O desafio de viver, entretanto, é constante. De algum modo, todos buscam dar um significado a vida, preenche-la com algo mais, do que o ar que respiramos.

Em tempos de catástrofes significativas, pensamos nos instantes, nas horas, nos dias em que tantos lutaram por suas vidas, e tantos outros, ajudam a salvar vidas. Alguns esperam bravamente por socorro, outros acreditam resolutamente no salvamento, todos querem viver.

Para cada um de nós, a vida é um grande desafio. Ganhar a vida, sustentar a família, vencer as dificuldades, superar os próprios limites, enfrentar os obstáculos, ultrapassar as barreiras.

Vencer na vida pode ser encontrar um emprego, ou alimentar os filhos, ou sobreviver ao terremoto ou ser encontrado em meio aos escombros.

A vitória de cada um pode ser comemorada alegremente, melhor ainda se estivermos ao lado da vitória dos outros. Para muitos, a vitória que almejam é muito pouco comparado ao que já temos, mas é muito mais significativa do que qualquer de nossos esforços, é a vitória da vida sobre a morte. Que cada um de nós façamos a nossa parte no grande desafio da vida.

A FORÇA DO POVO