25 agosto 2007

OS OUTROS


Uma das aspirações coletivas mais pronunciadas dos últimos tempos é a chamada “busca dos culpados” e a “punição dos responsáveis”.

Excluímos a nós mesmos, e concluímos que “os outros” são os potenciais protagonistas das mazelas, das falcatruas, das imoralidades, da falta de civilidade, da arrogância.

“Os outros” educaram seus filhos para disputar espaços, sobressair-se aos demais, sem medir efeitos nas relações solidárias, na convivência fraterna.

“Os outros” escolheram governantes e representantes ineptos, e abdicaram de participar, acompanhar e exigir aperfeiçoamentos na construção de uma sociedade mais justa.

“Os outros” aproveitaram-se de nossa passividade para furar filas, ultrapassar em manobras perigosas, ocupar as calçadas, ameaçar nossa integridade.

“Os outros” construíram barreiras intransponíveis que dividem ricos e pobres, velhos e novos, socialmente cultos e mestres da sobrevivência.

“Os outros” usufruíram de seu status para obter privilégios, para alavancar carreiras, para estampar vantagens.

“Os outros” fingiram-se de cordeiros para correr como lobos, e reinar como leões, para desgosto de nossa apatia enciumada.

Não fossem “os outros” viveríamos mais felizes em nosso sonho alienado, uma fantasia criada pela nossa teimosa mania de ver o mundo apenas do nosso ponto de vista.

Estaríamos livres da cumplicidade irrevogável de sermos pessoas deste tempo, deste lugar, dessa história.

Somos parte de uma sociedade carente de valores e princípios, ávida por desenvolvimento humano, sedenta de exemplos de caráter e liderança.

Transformar as cenas que denunciam nossa incompetência em conviver solidariamente numa realidade promissora de valorização da ética e prosperidade social é tarefa cotidiana e coletiva.

Então, culpar e punir estarão recheados de significado, como partes de um aprendizado contemporâneo, para manutenção de uma sociedade mais madura e mais livre.

A FORÇA DO POVO