13 julho 2011

POSSUIR E PERDER

Quando a criança chora porque o seu doce foi comido pelo irmãozinho, ou quando reclamamos na hora do pagamento dos impostos, o sentimento é o mesmo: estão sendo subtraídas as minhas posses.

Livre e explorador por natureza, o homem civilizado, ao longo dos séculos, tratou de demarcar terras, erguer muralhas e levantar cercas.

Ricos e pobres distinguiram-se pela quantidade e qualidade dos bens que foram acumulados no interior de cada propriedade. Roubar, perder, subtrair, são conceitos subseqüentes aos de pertencer, tomar posse, acumular.

O apego à propriedade individual é um despropósito em si mesmo, pois alimenta o culto às diferenças individuais estabelecidas pelos bens materiais, enquanto reduz os objetivos de vida de todos na sua conquista.

À desumana fonte de preocupações econômicas, some-se o escárnio das desigualdades produzidas contra os mais pobres, ou ao deboche, dos que usam o poder para ganhar mais, à custa do sacrifício e desvio do alheio.

Engajados em um sistema de consumo permanente, tornamo-nos vítimas da busca incansável e da satisfação inatingível.

E nos sentimos realmente incomodados quando percebemos pessoas vivendo em desacordo com o sistema, ricas em sensibilidade e prósperas em dignidade, menosprezando as regras estabelecidas, ignorando as cercas que erguemos, subvertendo a nossa resignação.

Não choremos pelo doce que nos foi subtraído, mas pela constatação de nossa falta de humanidade.

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