09 julho 2010

O CASO BRUNO

A exploração maciça e detalhada pela mídia do assassinato da modelo Elisa Samudio é suficientemente rica para vislumbrarmos os detalhes novelescos e macabros que envolveram essa tragédia.

No centro dessa trama perversa estão elementos reveladores das perturbadoras deficiências ocultas da nossa sociedade, essas sim, dignas de nossa reflexão.

Num país em que a carreira de jogador de futebol é a aspiração de pais e filhos a uma vida de altos salários e prazeres sociais, a educação formal e a solidez de caráter são comumente deixados de lado. Semelhante é o caminho trilhado por muitas das meninas que se aventuram em busca de conforto e dignidade, na carreira de modelo.

Tais posturas são facilmente adotadas, quando as alternativas disponíveis são as permanentes pressões dos traficantes de drogas cooptando meninos para atividades ilícitas com recompensas sedutoras, ou a via da educação formal e do trabalho duro, bem menos atraente.

Descolando-se materialmente das suas realidades de origem, jogadores, modelos e outros heróis emergentes absorvem as piores lições daqueles que ora os incensam, ora os desprezam, segundo interesses fúteis e imediatos.

Detestável e irrelevante abordar o fascínio dos jovens das periferias pelas facilidades e imagens de poder despertadas pelos criminosos nas comunidades, e as inevitáveis relações amistosas existentes na convivência local, desde a infância.

Frustrante como nação é percebermos que as instituições mais importantes, sobretudo a escola, são insuficientes contra a dilapidação das mentes e a banalização dos valores que ocorre através das mídias, das artes, do ilícito e do chamado comunitário.

A simbiose desses vazios culturais conflitantes vai corroendo a convivência social, diminuindo a capacidade de intervenção do estado e desestruturando famílias por toda a sociedade.

Como sempre, nessas ocorrências nefastas e perturbadoras para o jantar na frente da TV, aparecerão os críticos dos salários dos jogadores, da falta de punição para menores criminosos, da necessidade de leis mais duras, entre outras.

O tempo apaga as urgências de hoje e cria novos entretenimentos. A hora é de aproveitar a oportunidade de reflexão sobre nossas deficiências, como pessoas civilizadas e como sociedade, ao invés de esperarmos para nos fingirmos surpresos, na próxima tragédia.

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