A
agitação provocada pela movimentação de adolescentes nos shoppings brasileiros
expõe a ausência de uma identidade nacional, condicionada por séculos de
separação de classes, gêneros, etnias e regionalidades.
Justificativas
diversas procuram – às vezes sim, às vezes nem isso – encarnar o politicamente
correto, ainda que defendam evidentes argumentos de proteção de confortos e
privilégios.
Figurando
entre as maiores economias do planeta, o Brasil convive com atrasos seculares
em seu desenvolvimento, concentrando a riqueza, a terra, a educação de
excelência, o bom atendimento hospitalar, as condições mínimas de saneamento e
organização urbana nas mãos de uma pequena parcela privilegiada.
A
simples suspeita de que o templo do consumismo possa ter sua tranquilidade de
redoma assaltada pela convivência inusitada com sujeitos de uma maioria apartada
das riquezas ostensivamente midiatizadas, amedronta.
Uma
caminhada pelo shopping, um evento de promoção da popularidade de adolescentes
e namoricos combinados pelas redes sociais, transformou-se em crise
institucional.
Empresários
e líderes locais recorreram ao governo federal, tentando estancar a livre
circulação das pessoas em nome de seus lucros, da sua segurança, da manutenção
da “paz social”.
Sortudos,
aqueles que concentram vergonhosamente as maiores riquezas do país, por meios
nem sempre lícitos ou morais, ainda não foram incomodados pela grande massa que
sucumbe a espera nos hospitais, que se aperta nos ônibus e trens urbanos e que
não logra êxito no segregado sistema educacional brasileiro.
O
jeitinho brasileiro, que se confunde com a capacidade de sobreviver com humor a
toda sorte de injustiças e desigualdades históricas brasileiras, é, por certo,
um dos pilares frágeis que sustentam a nossa “paz social”.
Agir
para transformar o país em um lugar digno para todos os seus habitantes, com
proposições inovadoras, práticas sustentáveis e atitudes menos preconceituosas
é o que garantirá, a longo prazo, uma paz fundada na justiça e prosperidade
para todos.
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