21 abril 2011

AOS MURROS E PONTAPÉS


Cada vez que uma professora é agredida numa escola, podemos nos perguntar: onde foi que erramos? Desde quando isso passou a acontecer?

A resposta não é simples. Muitas coisas mudaram, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Nossos modelos tradicionais de convívio social, de formação humana, de estrutura familiar estão indubitavelmente abalados.

As expectativas para o futuro reprovam um retorno ao passado, mas caminham para o estabelecimento de parâmetros novos, de relações menos enraizadas, sob valores mais universais e menos morais.

Na escola e no ambiente das salas de aula as pessoas não se comportam de forma isolada dos costumes da sociedade.

E a perda de referências de autoridade na família, no trabalho, na escola, infelizmente, é uma dinâmica social mais ampla, que não será revertida por práticas pedagógicas ou por voluntarismo dos esforçados professores.

É preciso muita reflexão acadêmica, muita humildade investigativa, muito diálogo público, para que se aspire encontrar alguns pontos de convergência entre a sociedade que almejamos e o estágio em que nos encontramos.

A melhor maneira de evoluirmos, entendo, está em nossa capacidade de articularmos experiências práticas e conhecimento científico.

Urge deixarmos de lado as preferências partidárias, as vinculações mercantilistas e as simplificações ideológicas.

Educação é atividade complexa, de inúmeros significados, construída a partir da história das civilizações, das ciências sociais e da contextualização do ser humano no espaço e no tempo.

Não é tarefa para amadores.

Dar educação, na escola e na família, é formar pessoas, dotadas de valores e de responsabilidades, donas de aptidões e da capacidade de fazer escolhas.

E para enfrentar a vida, não queremos escolher os murros e pontapés, mas a gentileza, a solidariedade, a possibilidade de nos unirmos nas convergências e negociarmos as divergências.

É o que se espera de um país educado e preparado para o convívio global.

06 abril 2011

LIÇÕES JAPONESAS


A recente catástrofe do tsunami no Japão foi exposta nos meios de comunicação à exaustão, por um enorme repertório de meios digitais e eletrônicos utilizados pelas mídias interessadas comercialmente.

As imagens chocantes e os ângulos extraordinários transformam em espetáculo do horário nobre, o drama de milhares de orientais em sua escalada diante de adversidades raramente dimensionadas.

Mais forte do que o visual “spilbergiano” de muitas cenas, é o conteúdo humano das atitudes percebidas no momento da dor e da compaixão, da angustia e da tênue linha da sobrevivência, da solidariedade indispensável e da sensatez inesperada.

A solidez dos valores da sociedade milenar japonesa atua de modo discreto, mas reforça a impressão de que a aparente ocidentalização que mudou a ilha nos anos 80 é uma concessão secundária que permitiu a inserção do país no mercado global, longe de alterar seus costumes e regramentos essenciais.

Diferentes idades, gêneros, origens de classe, não estabelecem diferenças na compreensão fundamental de que o país, a nação, a comunidade estão acima dos interesses individuais, egoístas, personalizados.

O heroísmo protagonizado por homens e mulheres para salvar vidas, sem perder a dignidade e a compostura, diante de tremores de terra intermitentes desafiam a contumaz intolerância a riscos, e a impaciência com os necessitados e menos afortunados, tão presentes no nosso cotidiano.

Quando todos os debates decorrentes desses eventos rumam com certa prudência para questões ambientais, é preciso apreciar as lições históricas que podem ser extraídas desse episódio, em suas dimensões culturais, antropológicas, humanas.

Um país de extensão restrita, estrutura geológica desfavorável, devastado por guerras e tsunamis, resiste a tudo com uma bravura temperada pela guarda da honra, do respeito e da esperança no futuro.

Que as águas do mar revolto lavem as feridas que acometem nossa sociedade, não causada pela força das intempéries, mas pela banalização do consumismo pueril, fonte de ambições desmedidas e indiferenças fatais.
(Debatam comigo pelo e-mail fialhodefialho@uol.com.br)


A FORÇA DO POVO