08 agosto 2008

CONTRADIÇÕES E SUBDESENVOLVIMENTO

O aperfeiçoamento da convivência social no Brasil requer o enfrentamento de seus vícios históricos, de suas mazelas autoritárias, de seus estereótipos sociais.

Há pouco, comemoramos os quinhentos anos da presença européia na “Terra do Pau Brasil”, quando se concebeu a possibilidade de transformar essa vastidão de riquezas naturais habitadas pelos índios em uma província modelada pela inspiração colonizadora do velho mundo.

Passado meio século, gostaríamos de poder contabilizar reais avanços civilizatórios, que enchessem de orgulho os descendentes de nossos “descobridores”, para podermos freqüentar com altivez o clube dos países desenvolvidos.

Em meio a quase uma década de tímido crescimento econômico, nosso país amarga ainda a desonra de enormes contradições internas, cujos sintomas nos remetem ao primitivo, ao selvagem, ao truculento.

Alguns estados e muitos municípios ainda são governados como capitanias hereditárias, sujeitando cidadãos à arrogância e ao descaso com o bem comum.

A educação formal derrapa na escassez da qualidade e no despreparo dos abnegados professores, que idealizam para ensinar e sofrem para sobreviver.

As iniciativas públicas de transporte urbano são preparadas para o desempenho da indústria automobilística e não para o conforto e mobilidade das pessoas.

E as prisões, destino dos atingidos pelas políticas de segurança, são amontoados de humanos à espera de oportunidades de fuga ou entregues à violência dos “chefes” de gangues organizadas.

A salvo dessas condições catastróficas, membros das elites políticas e financeiras gozam de melhor sorte, quando penalizados por todo tipo de falcatruas e assaltos aos cofres públicos.

Instituições governamentais e poderes constituídos defendem a honradez e a integridade de seus pares, que por “deslizes” morais são submetidos a força policial engendrada desde sempre para punir os mais humildes.

O estarrecimento com tratamentos normalmente adotados nas prisões dos homens comuns e a interminável munição jurídica que os livram do cárcere, delatam a face classista da segurança pública.

Alheios a ojeriza popular, autoridades distantes do mundo real fazem valer a proteção do “status quo”, em prova de indisfarçável conivência e omissão.

A categoria de país subdesenvolvido não será superada apenas pelas estatísticas frias dos resultados comerciais, mas principalmente por condições mais evoluídas de igualdade social e convivência ética.

É preciso um enorme esforço humanista, uma exemplar afirmação das condutas positivas, para que num futuro não muito distante possamos harmonizar o crescimento material e o desenvolvimento de uma identidade brasileira respeitada.

2 comentários:

  1. Anônimo11:22 AM

    Nosso subdesenvolvimento é espiritual, assim como nossa corrupção é institucional, ninguém faz nada porque ninguém faz nada.

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  2. Anônimo11:30 PM

    Fialho, é sempre um alento ler gente como você. Talvez uma de nossas grandes fraquezas é não nos identificarmos como nação, não olharmos o amazonense, capixaba, baiano, carioca, paulista e todos os demais da mesma forma, como brasileiros. O mesmo se pode dizer dos ricos em relação aos pobres -- e o inverso não deixa de ser verdadeiro. Pode parecer pouco, mas o reflexo disso acaba sendo percebido em políticas de "eu primeiro, e o resto que se vire", ou algo do tipo.

    Aproveitando, obrigado pelo comentário em meu blog! E digo o mesmo para você, continue escrevendo!
    Grande abraço!
    Douglas

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