18 dezembro 2009

NÃO NASCEMOS PRONTOS

A historia das nossas vidas não é uma seqüência lógica, não estava planejada exatamente da forma como aconteceu.

Todos os dias somos surpreendidos, desafiados, instigados a mudar nosso trajeto, nossos pontos de vistas, nossas certezas de ontem.

Assim é a coleta inspiradora dos textos de Mario Sergio Cortella, em “Não nascemos prontos” e em “Não espere pelo epitáfio”.

Os títulos dos volumes logo são anunciadores, convidando o leitor a uma reflexão sobre seu papel no mundo.

Mas a seleta reunião de crônicas escritas pelo autor vai além disso, passando por uma fina ironia sobre o cotidiano, mesclada com os saberes clássicos, de onde Cortella pinça frases que enriquecem suas narrativas, e nos ligam ao permanente e essencial na existência humana.

O que fazemos com o tempo que ganhamos, em nossa busca frenética para não “perdermos tempo”?

Porque não ensinamos o que sabemos, não praticamos o que ensinamos, não perguntamos sobre o que não sabemos? (Monge Beda)

Até quando nos acomodaremos com a síndrome de Gabriela: eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim?

Quando trataremos aquilo que é de todos, como nosso, não apenas nos momentos de usufruir, mas também quando é necessário cuidar?

Quando vamos parar de perguntar “o que vai acontecer?” e passaremos a nos questionar “o que eu posso fazer?” (Denis de Rougemont)

Uma coisa que posso fazer é convidá-los a essas reflexões, compartilhando-as sempre mais com nossos semelhantes, para que possamos inspirar existências mais prazerosas e conscientes.

13 novembro 2009

APRENDER

Todos os dias nós aprendemos algumas coisas. Em todos os lugares, em todos os momentos, encontramos os ensinamentos que vão alimentando a nossa existência.

Aprendemos com as coisas, através das suas formas e cores; seu peso e massa; seu valor monetário ou valor sentimental.

Aprendemos com os lugares, os ambientes; os raios de sol e de tempestades; o verde da matas e das águas.

Aprendemos principalmente com as pessoas.

As pessoas são originais, insubstituíveis, inigualáveis, impiedosamente diferentes.

Nunca poderemos ser igual ao outros. Não poderemos ter a mesma experiência, os mesmos talentos, as mesmas virtudes.

Aprender não é como abduzir ou incorporar.

Somos únicos, vivendo momentos únicos, trocando linguagens e sentidos especialmente vividos no momento presente.

Damos significado aos gestos, atenção às pronuncias, crédito aos olhares.

Aprender é um estado de espírito, próprio de quem sabe o que é mais importante, de quem inspira a criação dos saberes, de quem exprime muito, apenas ouvindo.

Aprender a aprender deve ser parte do ciclo da vida. O ar que respiramos para continuar existindo.

É a via inevitável do caminhar humano. Tanto melhor, se for ao lado dos que amamos, dos verdadeiros amigos, dos que descobrem a nossa humanidade.

Somos humanos para aprender. Aprendemos a ser mais humanos.

Em meio a tantas atividades, negócios, vontades, ambições, aprender é o que verdadeiramente importa.

Ser, crescer, evoluir, com os que nos rodeiam, colocando um ingrediente novo a cada dia, para o bem de todos nós.

12 setembro 2009

FAZENDO HISTORIA

A história de um profissional em uma organização é desenhada a partir de sua iniciativa pessoal, ou a falta dela, enfrentando a dinâmica dos acontecimentos conjunturais, da relação com os demais profissionais e dos resultados produzidos por essa interação.

Para que serve a historia de um profissional?

Para os objetivos práticos e imediatos do mundo competitivo, é um conceito dispensável, na maioria das vezes em que ele é citado. No aproveitamento do indivíduo para uma ascensão na hierarquia da organização, por exemplo, a “bagagem” adquirida no tempo tem sido cada vez mais desvalorizada pelos “caçadores de talentos”.

Entretanto, a organização (essa eu ouvi de um consultor num programa de rádio) não passa de uma figura jurídica “subjetiva”, sem existência autônoma, totalmente dependente da ação, das atitudes e dos comportamentos das pessoas que fazem parte dela, seja nas instâncias de direção, seja nas mais modestas atividades operacionais.

Quando o individuo acumula um determinado conjunto de habilidades, de condutas e de formas de comunicação com seus pares, isso tem importância para sabermos como são os indivíduos que constroem essa organização.

Não podemos imaginar que uma organização seja exemplar pela qualidade no relacionamento com seus clientes e fornecedores, se as pessoas desta organização exibam características antagônicas a essa imagem organizacional. O inverso também não é possível.

As iniciativas pessoais de uns, conflitam com o comportamento de outros, produzindo uma interação nem sempre harmônica. Isso se dá por atitudes intensivas em busca de resultados, em que sujeitos de funções dirigentes atuam sobre seus subordinados, ou em sentido inverso, quando colaboradores interrompem as atividades – uma greve, por exemplo.

O valor da história de um profissional está na sua capacidade de ser humano, integro, mesmo quando a dinâmica das relações internas e externas da organização lhe sejam hostis, ou não lhe favoreçam.

A “bagagem” é um ingrediente rico, quando organizações valorizam a perenidade de sua relação com a sociedade, e optam por construir solidez ao invés de imediatismos.

E mais do que isso, as pessoas que compõem as organizações são as mesmas que moram nas cidades, educam seus filhos, constroem famílias, formam grupos por afinidades esportivas, religiosas, políticas e tantas outras.

Como podemos imaginar que pessoas adotem comportamentos tão distintos para ambientes diferentes, circunstâncias diferentes ou momentos diferentes?

Como construir organizações perenes, integradas com a sociedade, se as pessoas que a constroem submetem sua integridade, seu caráter, sua história pessoal e profissional à sedução dos ganhos financeiros ou à adesão a idéias supostamente inovadoras, que destroem a natureza colaborativa das pessoas que fazem parte dessa história?

As pessoas, presentes ou não nas organizações, precisam de personalidade própria, coragem para ser, persistência para existir.

Com coragem e persistência compreendemos que nossa existência está comprometida com uma sociedade mais humana para nós, para as novas gerações, e para as organizações que sempre farão parte da história das nossas vidas.

03 junho 2009

DEMOCRACIA E ATITUDES

A experiência democrática dos últimos vinte e cinco anos retrata as enormes dificuldades da complexa formação da nova sociedade brasileira.

Na tentativa de explorar as melhores oportunidades em um regime de liberdades garantidas, os políticos e todo o aparato que sustenta as instituições de governo e representação, se auto preservaram, estipulando mecanismos novos ou mantendo os antigos conforme a conveniência.

Partidos foram fundados, re-fundados e multiplicados sob o manto do livre direito de associação e organização, porém descolados de qualquer vínculo ideológico, fragilizando a opção do eleitorado por esta ou aquela linha de governo.

Privilégios formatados no período autoritário perenizam a sensação de castas nas casas legislativas pelo país, como votos secretos, apropriação de verbas sem destinação ao interesse público, proteção jurídica extrapolando a condição necessária ao exercício do mandato, entre outras aberrações que afastam os eleitos do cidadão comum.

O desprezo pela ética acontece às vistas de uma eclética rede de meios de comunicação, que transita entre a palatabilidade das notícias, a repetição banalizadora, ou às vezes, o denuncismo intencionalmente elaborado para favorecer grupos, com aparente imparcialidade.

A desrespeitada "opinião pública" não constrange os que querem consumir recursos públicos em obras desencessárias, viagens improdutivas e distribuição familiar de cargos e salários.

A lógica eleitoral impede a construção de uma reforma política consistente, que aponte para uma elevação qualitativa do processo político-partidário no país. Adia a visão de uma democracia forte, em que despontem os verdadeiros estadistas, a serviço de um futuro mais longo que a próxima eleição.

Passada a euforia dos movimentos sindicais e populares da década de 80, pós regime autoritário, restam poucas organizações sociais de porte, enquanto se diversificam manifestações de grupos específicos, sem capacidade de influenciar mudanças significativas na realidade sócio-política vigente.

A sofisticação das mídias e dos modos de expressão individuais, contrastam com o declínio da sensibilidade social para o combate à fome, à exploração, ao desemprego estrutural, ao baixo nível da educação, saúde e habitação oferecidos à siginificativa parte da população brasileira.

É preciso construir com sentido de urgência, e a partir das pessoas, uma nova esperança criativa e solidária, capaz de modificar as atitudes na perspectiva de uma consciência global, humana e ambientalmente correta.







22 março 2009

AGENDA GLOBAL

Na agenda de todo governante sério, está presente o desafio de defender os interesses locais, dos efeitos destruidores da atual crise econômica.

Na premência de resguardar estágios avançados de desenvolvimento, líderes das grandes nações acenam com um espírito colaborativo nas discussões diplomaticamente importantes, mas não hesitam em proteger seus mercados, com regulamentações protecionistas.

A simples divulgação sistemática da destinação de bilhões de dólares ou euros para empresas ou instituições financeiras não será suficiente para dinamizar a economia global, numa escala que coloque o planeta em um novo ciclo de crescimento.

O resgate das condições internacionais de crédito depende principalmente da criação de uma expectativa de expansão das transações comerciais, que gere um fluxo sólido e crescente de divisas para todos os países.

As medidas de preservação dos mercados locais, alijando as negociações naturais de comércio exterior reduzem as chances de uma dinâmica de recuperação das nações em desenvolvimento.

Ao efetuar o controle estatal das importações, os países ricos exercem seu poder excludente, que deteriora as relações internacionais e contradiz o cântico globalizante dos últimos vinte anos.

É preciso que a comunidade internacional volte a celebrar a liberdade dos mercados, recriando condições para uma nova fase de desenvolvimento capitalista, com mais solidez e menos atitudes discriminatórias.

08 fevereiro 2009

DOM HELDER CÂMARA

Na data em que Dom Hélder Câmara completaria cem anos de vida, é possível recuperar parte da memória que vai sendo esquecida: a história da participação política de religiosos e leigos do catolicismo nos últimos cinqüenta anos.

Teólogos da libertação escreveram palavras nuas de fantasias, sobre as necessárias intervenções políticas e humanitárias, que transcendem o ritualismo religioso, para a transformação da vida dos pobres da América Latina.

Militantes das esquerdas e agentes da ala progressista católica uniram-se na defesa de migrantes, agricultores, favelados, menores de rua e outras categorias menos favorecidas da nossa sociedade.

A própria estrutura da Igreja, através da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), em certos momentos, viu-se contagiada pelo apelo libertário, pela defesa das liberdades democráticas, pela atuação engajada de sua ampla rede pastoral.

Nesse movimento humanitário organizado, Dom Hélder foi expoente de liderança religiosa, capaz de dialogar com as forças conservadoras da ditadura e ao mesmo tempo, defender os direitos humanos dos aviltados pelo regime.

Pacifista, Dom Hélder deixou o legado de alguns dos mais nobres valores humanos: solidariedade, compaixão e esperança.

12 janeiro 2009

CHUVAS E ESTRADAS


O ano novo começa com a existência de fenômenos naturais importantes, que marcam mais uma vez a história do sul do Brasil.

Em plena época de veraneio, quando turistas brasileiros e argentinos principalmente, invadem as estradas da região, a mobilidade é fortemente atingida pelo bloqueio de estradas importantes.

Um intenso regime de chuvas, conjugado com agitação atípica do mar – causada por um ciclone nas proximidades do norte de Santa Catarina – produziu enchentes em cidades as margens de rios, ao sul daquele estado.

Cenas de turistas em situação de isolamento e veículos submersos são mostradas junto com a dos moradores, atingidos em suas casas.

Rodovia fundamental na ligação dos estados da região sul, a BR 101 foi tomada em altura e volume pelas águas do Rio Araranguá, impedindo o fluxo de veículos entre as cidades de Araranguá e Sombrio.

A liberação da estrada aconteceu na noite da última terça-feira, ainda em situação precária, mantendo-se a lentidão no trânsito.

A perplexidade da opinião pública diante do impacto que as intempéries causaram no cotidiano das cidades próximas, levou a imprensa local a divulgar informações desencontradas, causando ainda mais confusão aos que dependiam delas.

Felizmente, contrariando previsões catastróficas, o desvio bem sinalizado pela Polícia Rodoviária Federal, serviu ao desafio de compensar razoavelmente a deficiência da BR 101.

Cabe às autoridades locais e federais a adoção de medidas preventivas às ocorrências dessa natureza, evitando-se o empirismo que domina a atuação dos agentes públicos e a disseminação de idéias alarmistas que comprometem o espírito colaborativo esperado para situações como essa.

A FORÇA DO POVO