20 junho 2010

A ERA DUNGA

A crônica jornalística viu poucas vezes na história recente um personagem tão rico em estereótipos e motivos para inspirar um texto.

 
Pejorativamente falando, tínhamos o presidente Fernando Collor e sua ministra – como é mesmo o nome...? – Zélia, no início da década de 90. Rendiam bons textos, sobre como apunhalar um povo inteiro, e fazer isso parecer normal.

 
Outro líder político – se é que podemos chamá-lo assim – que sempre arregimentou cargas de adjetivos de segunda classe foi Bush, o presidente americano que deu de ombros para a paz mundial, e fez as famílias americanas reviverem os dramas de guerra, que não viviam desde o Vietnam...

 
Atualmente, para nós, o personagem de todas as crônicas é Dunga. Não só de todas as crônicas, mas de todas as conversas de bar, de elevador, de padaria, de corredor do escritório, de motorista de táxi.

 
Nem ele, nem psicólogo algum, consegue explicar o motivo de tão intensa e permanente acidez. Tudo bem, ser técnico da seleção brasileira é uma responsabilidade enorme, todo mundo dá palpites, a mídia ao redor o tempo todo, o Brasil sempre entra com obrigações de vencer, tudo isso é verdade.

 
Mas o Dunga não sabia disso, ao assumir a seleção canarinho?

 
Sabia, e ao que parece adorou a idéia. Ele aproveita muito bem a oportunidade de destilar o seu mau humor em cada entrevista, em cada treino, em cada jogo. E o que motiva esse comportamento:

 
Revanche por ter sido injustamente responsabilizado pelo fracasso da copa de 90 como a “era Dunga”?

 
Sarcasmo por ocupar uma posição onde tantos treinadores competentes e experientes mereceriam estar, e mostrar bons resultados?

Deboche diante da impaciência do torcedor e dos jornalistas com a mediocridade do futebol que ele coloca em prática?

 
Ganhando ou perdendo, sendo campeões ou voltando antecipadamente para o Brasil, nunca iremos entender claramente o que torna um ser humano tão vitorioso, com carreira profissional de sucesso, de caráter respeitado, num verdadeiro Dunga, que de agora em diante significa mal humorado, rancoroso, ácido.

 
Mas de uma coisa sabemos: Dunga é a inspiração permanente para textos irônicos, cronistas atentos e receitas de como não se comportar diante dos outros.
 

A FORÇA DO POVO