26 dezembro 2006

NOTÍCIAS DO BRASIL


A crise dos transportes aéreos no Brasil transformou-se em singular fenômeno que marcará na memória, o final de ano de 2006.

Desde o acidente com o avião da Gol, vôo 1907, que fazia o trajeto Manaus – Brasília, chocando-se com um jato Legacy, aeronave particular que voava no mesmo trajeto, o setor aéreo tornou-se atração dos noticiários e invadiu os debates pelo país afora.

Lances improvisados do governo, tentando atenuar os efeitos da mal esclarecida deficiência do controle de tráfego aéreo, supostamente engendrada pelos próprios controladores, aumentaram a insegurança no setor.

Ficou evidente logo após o acidente do avião da empresa Gol que os controladores operam em ritmo extenuante. Os radares tiveram sua eficiência questionada, e os problemas crescem em ambiente de concorrência acirrada entre as empresas aéreas, com o crescimento do movimento nas rotas existentes.

A crença histórica na segurança do passageiro com essa modalidade de transporte foi duramente atingida, e a conseqüência dessa mudança de ponto de vista ainda poderá ser avaliada.

O custo baixo dos vôos que popularizou o acesso e inchou as filas dos check-ins pode ter sido um dos fatores de esgotamento da estrutura dos aeroportos, do afrouxamento da atuação dos órgãos de fiscalização, e da sobrecarga das rotinas de segurança, em especial do controle de tráfego.

A manutenção simultânea de seis aviões pela TAM e a cessão de outros pela FAB para cobertura das linhas prejudicadas são novos ingredientes de uma crise que ainda tem muito a ser esclarecida.

Também não custa lembrar o tragicômico pedido de congressistas por aeronaves da FAB para levá-los às suas bases antes do Natal, quando milhares de mortais comuns se amontoavam em saguões de aeroportos sob a (des)orientação de funcionários estressados com a instalada desordem no sistema da aviação comercial brasileira.

Interessante ressaltar que o caos nos transportes aéreos atinge os mais variados setores da sociedade, de modo particular e no interesse público e da economia.

Serve para que reflitamos sobre a necessidade de uma atenção redobrada na infra-estrutura do país, para que possamos trilhar o caminho do crescimento.

Do ponto de vista humano, nos sensibilizamos com a situação das pessoas em suas angustiosas esperas por um vôo que os levem aos seus destinos. Mas estamos falando de uma minoritária fatia da população que tem acesso ao transporte aéreo.

São incontáveis as situações a que são submetidos os brasileiros de menor renda para se deslocar pelo país.

Transportes clandestinos fazem rotas entre o eixo Rio/São Paulo e o norte e nordeste do país, embarcações que viajam pelos rios da Amazônia ultrapassando a quantidade máxima permitida, trens, metrôs e ônibus que com suas superlotações humilham os cidadãos no cotidiano das cidades.

Há muito que se fazer pela dignidade do cidadão brasileiro, e a nossa perplexidade diante dos fatos expostos à exaustão na mídia, precisa estar acompanhada de uma objetividade um pouco antipática: o atraso sucessivo nos vôos comerciais não é o problema número um do Brasil, especialmente quando estamos às vésperas de virar a pagina do calendário para um novo ano.

Olhar para o Brasil e para o futuro de modo amplo, construindo o melhor que pudermos fazer, para benefício de todos os brasileiros: essa deveria ser a nossa principal notícia .

13 dezembro 2006

JUSTIÇA E IMPRECISÕES

São cada vez mais freqüentes as notícias de erros jurídicos que tem como desfecho a trágica infelicidade de inocentes, expostos aos indesejáveis ambientes reservados aos criminosos e delinqüentes nos presídios e delegacias pelo país afora.

Procedimentos equivocados, prazos descumpridos, indícios mal apurados são componentes de uma desgovernada jornada ao cumprimento da lei, insensível às evidências, intransigentemente burocrática.

Fosse o cidadão, crédulo que as instituições de poder estão à sua disposição para a efetiva solução de suas demandas garantidoras de seus direitos, e esses erros não teriam maior repercussão social.

Infelizmente, a percepção da sociedade não reflete essas aspirações.

Os ritos jurídicos reproduzem as desigualdades sociais vigentes, onde os mais poderosos utilizam-se de estratégias legais diversas para prolongar processos intermináveis e escapar das imposições legais. Para os mais pobres, alvo mais freqüente dos erros jurídicos, as decisões são mais rápidas e expostas à imprecisões, que resultam em conseqüências humanas de difícil mensuração, mas de importantes significados.

É verdade que após a constituição “cidadã” de 1988, muitos direitos foram incorporados ao cotidiano, melhorando as relações dos consumidores, o respeito às minorias, os direitos trabalhistas, entre outros.

Não se pode desprezar a crescente consciência dos brasileiros para a defesa dos direitos tanto coletivos, quanto individuais, nas últimas décadas.

Entretanto ainda há um longo caminho para que os meios legais estejam acessíveis aos que mais necessitam da ação reparadora do Estado.

Os próprios membros do poder encarregado de preservar a harmonia da vida em sociedade, oferecem exemplos de conduta reprováveis, quer quando se apropriam de recursos públicos para benefícios salariais descolados da realidade nacional, quer quando persistem na adoção de práticas de nepotismo em sua estrutura funcional.

É preciso reconstruir a credibilidade do judiciário a partir de ações inclusivas para os menos privilegiados. Reforçar a idéia de que “justiça” não seja apenas uma palavra que representa um poder institucional, mas que signifique a solução imparcial dos conflitos de interesses, valorizando a convivência humana dentro de padrões elevados de ética.

28 novembro 2006

ESTADO DE ALERTA

O verão está chegando, e com a nova estação, o aumento de intensidade pluviométrica, companheira dos dias mais longos do nosso horário modificado e suas temperaturas mais altas.

Nós, cidadãos comuns, e nossos governantes, somos sabedores dos efeitos das chuvas de verão no ambiente urbano, hostil ao movimento natural das águas.

Apesar disso, a sensação que experimentamos é de que somos tomados de assalto pelas intempéries. Alagamentos espalham-se pelos bairros, os congestionamentos diários se ampliam, sinalizações fracassam e o apoio das instituições e dos concessionários de serviços públicos não podem ser considerados suficientes.

Não são incomuns os estragos causados pelas ruas, em especial nas periferias e suas áreas de risco, e a conseqüente deterioração das condições sanitárias, a proliferação de doenças, a desocupação emergencial das residências, entre outros.

Passam os anos e as causas históricas dos desequilíbrios ambientais que alimentam estas situações são pouco atenuados. As metrópoles seguem absorvendo populações do interior seduzidas pela oferta de trabalho, que se espalham desordenadamente em áreas sem condições de habitabilidade.

As aglomerações urbanas impedem a adequada harmonia necessária para a preservação das áreas verdes, proteção dos rios e suas nascentes, além do revestimento inevitável do solo pelo asfalto e pelo concreto, que detém o escoamento da água das chuvas.

Também é relevante a constatação da escassa cultura ecológica da população, que se traduz em acúmulo de lixo pelas ruas, desperdício de água potável, uso excessivo de transporte individual particular, entre tantos fatores que contribuem para o desequilíbrio ambiental.

Está na hora de tratamos a questão do meio ambiente como prioridade fundamental. As ações para recuperar a saúde do planeta precisam ser permanentes, atingindo as causas das tragédias naturais. E as atitudes da sociedade devem refletir a urgência que o assunto requer.

Para o bem do planeta, a solução está na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa rua, na nossa casa. Importante começar. Imprescindível persistir.

25 novembro 2006

A OBESIDADE, A ANOREXIA E A FOME

Um desafio moderno para os médicos e nutricionistas é a crescente incidência da obesidade a partir das crianças e jovens, que se vêem bombardeados pelas campanhas publicitárias de produtos de alta taxa calórica e pouca riqueza nutritiva.

A vida urbana atual afasta os adolescentes das praças e práticas esportivas, e quando alguma atividade física faz parte de sua rotina, vem acompanhada de tensões por carga excessiva de tarefas, planejadas pela família para ocupação total do tempo criativo.

A acomodação dos jovens aos rituais modernos trazidos pelas novas tecnologias de comunicação e informática aumenta as dificuldades para o desenvolvimento de uma boa saúde física e tende a provocar o aparecimento precoce de doenças originárias da obesidade e do sedentarismo.

Na contramão dessa situação, e não menos preocupante, é o vício da não alimentação, o culto à magreza – que fora futilmente associada a padrão de beleza – e cujo efeito à saúde evolui da anorexia para a morte, quando não tratada de forma adequada.

O estereótipo da beleza comercialmente explorada é alvo fácil para personalidades juvenis em formação numa sociedade em que a educação formal pouco prepara os alunos para a vida real, e em que a família tem perdido influência para outros interesses mais sedutores, prevalecendo o narcisismo como caminho para o reconhecimento social.

Proliferam largamente os negócios e profissões associados ao aperfeiçoamento da aparência física, numa demonstração da importância da vaidade pessoal como valor socialmente aceito. A estética se estabelece entre nós como prioridade individual para a inserção nos grupos sociais.

Paradoxalmente, a fome ainda é uma realidade para milhões de brasileiros. Programas sociais em contínua expansão procuram alcançar os mais diversos rincões buscando minimizar o impacto da miséria histórica e das permanentes crises das economias locais do interior do país.

São necessárias medidas de emergência acompanhadas de projetos estruturantes, que libertem essas populações da dependência contínua, e as situem em novos padrões de dignidade.


Estão expostas as marcas de uma sociedade imediatista, que ainda precisa de muito esforço para a construção de novos paradigmas de convivência.


A obesidade, a anorexia e a fome são três faces exemplares de um país que ainda não encontrou modelos sólidos para a formação das novas gerações. A transformação dessa realidade depende de atitudes novas, engajadas e responsáveis de todos.

07 novembro 2006

DESCONTROLES

Exposta cruamente a deficiência da nossa sociedade em alcançar novos padrões de entendimento quando estimulada pela verdade dos fatos e a dor dos acontecimentos funestos.

Suplantando reflexões equilibradas, arroubos ideológicos e politiqueiros irrompem na mídia, apresentando idéias mirabolantes para problemas complexos, como a crise da aviação comercial sob efeito de manifestação silenciosamente organizada pelos controladores de tráfego aéreo.

Diante do exacerbado descontentamento dos usuários dos vôos domésticos, poucas vozes foram capazes de discernir que o maior dos problemas não estava no momentâneo atraso das decolagens, mas na atitude com a qual nossa sociedade utilitarista quer enfrentar desafios estruturais nos momentos de eclosão das crises.

Categorias profissionais encarregadas de serviços vitais para a coletividade são inescrupulosamente ignoradas até que um movimento reivindicatório lhes coloca em destaque na mídia e nos debates públicos e institucionais.

Para uma contemporaneidade crédula de que o mercado ajustará ofertas de produtos e serviços às demandas e necessidades da população, cabe lembrar de tantas outras atividades desinteressantes para a formação imediata de lucros, mas indispensáveis à sobrevivência da população, especialmente aquelas de menor poder de compra.

Como no caso dos controladores de tráfego aéreo, cuja abnegação pelo trabalho sem reconhecimento adequado rompeu-se após sucessão de fatos que demonstram enormes dificuldades para o desempenho de excelência que sua profissão requer, outras categorias carecem de atenção específica.

O segmento do trabalho nos debates políticos é continuamente abordado sob a ótica da quantificação de geração de empregos, sem uma estruturação ordenada de prioridades na formação de profissionais em escassez ou das necessidades de atendimento à populações periféricas, regiões de difícil acesso, profissões de risco ou políticas públicas em desenvolvimento.

São noticiados esporadicamente nos meios de comunicação casos de esgotamento de categorias ou atividades, que afetam drasticamente o bem estar e o cotidiano das pessoas: sobrecarga nos portos e agências alfandegárias, falta de profissionais da saúde em hospitais públicos nas periferias, ausência de fiscais ambientais, especialmente na Amazônia, entre outras.

Dispensa-se explorar o momento traumático vivenciado pelos familiares das vítimas do recente acidente aéreo, que é ponto de ebulição da conturbada semana vivida nos aeroportos brasileiros. Importante é extrair as lições desse episódio, orquestrando ações permanentes de atenção às atividades de risco, às necessidades vitais da população e a formação induzida de profissionais indispensáveis. E superar essa ansiedade descontrolada de inventar soluções de curto prazo, que sucumbem na próxima crise.

30 outubro 2006

SEMELHANÇAS DEMOCRÁTICAS

A decisão que o povo consagrou nas urnas é contundente e não deixa margens à dúvidas quanto ao presidente escolhido. A votação de Lula no segundo turno é incontestável e repete a façanha da reeleição conquistada por seu antecessor Fernando Henrique Cardoso.

O momento é de análise da mensagem que as urnas querem revelar. Alguns analistas explicam a derrota do PSDB através dos erros cometidos pela campanha de Alckmin, enquanto outros procuram destacar o panorama da realidade brasileira, em que amplas massas de brasileiros são alcançados pelas políticas públicas que complementam renda e diminuem a miséria histórica.

A campanha de Lula saiu-se muito bem em demarcar a participação do governo no combate das desigualdades sociais, salientando a importância dos benefícios distribuídos para a sobrevivências das pessoas e das economias locais em inumeráveis rincões do país. A autoria dos programas sociais em curso não estavam em discussão, mas a efetividade deles no cotidiano das pessoas, e esse aspecto foi muito bem capitalizado.

A identificação de Lula com os trabalhadores do país, seu diálogo de fácil entendimento com parábolas e citações da vida real, o tornaram mais próximo das aspirações do povo. Também não se pode desprezar o enraizamento do PT na sociedade, em todas as regiões.

As tentativas dos oposicionistas de marcarem o governo com a marca da corrupção não foram suficientes. O insistente questionamento quanto a origem do dinheiro que compraria o suposto dossiê contra os tucanos esvaziou-se na repetição, ainda que seja considerado legítima, essa indagação.

A situação dúbia do PSDB quanto a questão das privatizações, o apoio mal recebido de Garotinho, no Rio de Janeiro, no segundo turno, e a fragilidade da sua atuação nos governos estaduais, especialmente em São Paulo na questão da segurança, foram determinantes para a escolha de Lula.

Destaque-se ainda que os votos de Lula foram somados aos de Cristóvam Buarque e Heloísa Helena, além dos que migraram do próprio Alckmim, que teve votação inferior ao primeiro turno, o que demonstra o fracasso de sua proposta quando exposta ao confronto direto do segundo turno.

A longo prazo é possível prever um novo arranjo partidário no país, que busque evidenciar as diferenças ideológicas ou pragmáticas dos grupos que disputam o poder. A semelhança de idéias promovidas pelos postulantes ao cargo presidencial ficou nítida nos debates e nos programas veiculados no rádio e televisão.

Carece de originalidade o discurso da quantidade de milhões de reais que cada um emprega em um setor de serviços públicos ou de desenvolvimento regional. Sobre a condução da economia não se conseguiu perceber qualquer alternativa significativa ao atual modelo, o que desmotivou o eleitor a promover uma mudança.

A boa notícia é a afirmação consistente da nossa democracia. Ressalvadas exceções, as eleições comprovaram nossa maturidade republicana. Demonstrações de apreço democrático entre os adversários demonstraram que temos potencial para a construção solidária e generosa de um país melhor.

25 outubro 2006

O TERCEIRO TURNO


Surgem aos poucos na mídia algumas infelizes declarações verbalizadas por opositores ao governo atual, às vésperas de uma prognosticada derrota eleitoral, mantidas as tendências das pesquisas de opinião realizadas pelos institutos mais importantes.

Promete-se acalorar o cenário pós-eleitoral com uma orquestrada pressão judicial, com o intuito de invalidar o pleito, deslegitimar o provável eleito, cassar o mandatário proclamado pelas urnas, sob o argumento de crime eleitoral, fundamentado nas imoralidades cometidas na malsucedida compra de um suposto dossiê que prejudicaria a candidatura oposicionista.

É verdade que os fatos que circundaram o ato desonesto ainda não estão devidamente esclarecidos, tomam tempo e esforços da Polícia Federal que esmera-se em desvendá-lo - bom que se diga - trata-se de instituição imparcial e competente para tal.

Confirmadas as suposições de que o dinheiro para a aquisição dos documentos arranjados para a aniquilação da candidatura de oposição têm origem ilegal - o que por si só estabelece a irregularidade na campanha eleitoral - resta a investigação sobre a origem e o conteúdo das denúncias existentes que até o momento não foram divulgadas.

Por ora, a candidatura oposicionista não foi incomodada com as pretensas informações adquiridas a peso de ouro, não tendo elas, portanto, qualquer influência na avaliação negativa do eleitorado ao presidenciável virtualmente derrotado.

Espera-se, a título de curiosidade gerada pelo impacto que o tal dossiê obteve na mídia, que saibamos num futuro próximo o que essas acusações amealhadas com fim destrutivo tem de verdadeiras, o quanto elas poderiam ter contribuído para uma percepção mais nítida das candidaturas em disputa.

Ainda assim, carece de espírito democrático essa atitude ameaçadora, que busca levar ao “tapetão” (expressão conhecida no mundo do futebol, quando se busca alterar resultados obtidos em campo pela via do Tribunal Desportivo) a decisão que democraticamente a população tomará no próximo domingo.

Punam-se os culpados, responsabilize-se os autores, erradiquem-se da sociedade as imoralidades, desmascarem-se as mentiras, mas não se promova um terceiro turno a partir do desconforto dos eventuais perdedores.

O país não gira ao redor do cargo presidencial e os esforços dos que querem o bem público devem ser direcionados a organização política, ao crescimento, ao bem estar social, aos enormes desafios que enfrentamos para assegurar dignidade mínima à maioria da população brasileira.

Um terceiro turno não fará nenhum bem, ao contrário, estenderá a derrota a todos os brasileiros, que continuarão assistindo um combate infrutífero, alimentado pela obsessiva paixão dos partidos dominantes pelo poder, expondo ainda mais à sociedade a carência de integridade dos que almejam governar.



23 outubro 2006

O BRASIL E O MEIO AMBIENTE


A presença brasileira nos fóruns internacionais que efetivamente influenciam nas decisões sobre o futuro do planeta é tema importante e raramente abordado nos debates eleitorais.

Nos momentos de acirramento bélico no Oriente Médio, com ou sem a intervenção de países do ocidente, destaca-se na mídia a aspiração do Brasil à uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, hoje reservado à participação das grandes potências econômicas.

A constituição de blocos regionais que de forma antecipada preparou os países ricos para o atual processo de globalização da economia, desafia os dirigentes políticos e empresariais brasileiros a desempenhar sua liderança natural na América Latina. Movimentos realizados pelo Chile, Argentina, e recentemente a Venezuela tem ofuscado o lugar que poderia ser ocupado pelo Brasil como liderança política e econômica na região.

São esses os motivos mais relevantes que colocam em debate os erros e acertos do governo brasileiro, quando se analisam suas relações internacionais. Entretanto, é cada vez mais urgente evidenciar o destacado lugar do Brasil no cenário mundial quando o assunto é o meio ambiente.

A vida do planeta sofre ameaças em todos os continentes. São conhecidos de todos os diversos acidentes e desastres ambientais dos últimos anos, cujas causas são em grande parte resultantes da ação da sociedade moderna.

O Brasil, pelas suas riquezas naturais, pela sua densidade demográfica, pelas suas dimensões territoriais, pela extensão de sua orla marítima, pela sua contribuição negativa na produção de poluentes, é um país decisivo para o sucesso de qualquer ação de cooperação internacional que tenha a melhoria do ambiente natural como objetivo.

Concomitante à defesa dos bens naturais herdados no nosso solo, cabe aos brasileiros uma postura ativa na construção da educação ambiental, na promoção da economia sustentável, na preservação ecológica, no desenvolvimento humano.

Trata-se de prioridade nacional, a consciência de cada cidadão, de cada empresário, de cada governante, da condição de protagonista que o Brasil deve ter no cenário mundial no tema meio ambiente.

Somente uma atitude pró-ativa e responsável evitará que a nossa natureza privilegiada seja tratada de forma universalista, tutelada pelas grandes potências, que centralizam atualmente as grandes decisões mundiais.

14 outubro 2006

PENSAR E AGIR


O sonho da maioria dos brasileiros é um singular cômodo para abrigar sua família, uma ocupação capaz de lhe trazer dignidade e sustento, uma assistência segura nos momentos de necessidade, uma trilha nos caminhos do saber para o crescimento daqueles que os acompanham.

Distantes da vida real, o paradoxo da mídia, os discursos políticos, os privilegiados da elite, os sedentos de poder, os donos das riquezas.

Como enfrentar tamanhas dificuldades, a mercê do humor dos governantes, da empáfia dos corruptos, da indiferença dos vencedores? Até quando seremos cúmplices da apatia social, que cala diante das imoralidades do Estado, que silencia diante das violências degradantes, que se acomoda frente a desconstrução da esperança e da solidariedade ?

Cada um de nós, é parte integrante da dita sociedade moderna, erguida sem o menor constrangimento para o império dos valores egocêntricos sobre os coletivos, para a ostentação do ter sobre a mansidão do ser. O movimento dos dias é surdo ao grito dos pedintes, cego aos sinais de desespero, indiferente às injustiças sociais. O senso de humanidade não nos instiga à atitudes mais compromissadas com os menos favorecidos; nossa consciência social não tem força para nos tirar da inércia; informações em excesso não produzem reflexões construtivas.

Pensar sobre tudo isso não deve nos entristecer. O desbravamento de caminhos alternativos, a busca de espaços, a abertura de novas fronteiras são movimentos naturais da humanidade em evolução. A síntese entre a comoção e a ação é um resultado complexo, repleto de variáveis psicológicas, que não nos deve paralisar ou intimidar.

Atentar para as necessidades contemporâneas em alinhamento com o desenvolvimento das pessoas em sua integralidade é o desafio que precisamos enfrentar para o alcance de um estágio superior de convivência.

Olhar para o presente, caminhar para o futuro.

10 outubro 2006

SEGUNDO TURNO


Inaugurada a fase de debates para o segundo turno das eleições presidenciais, percebe-se o caráter agressivo dos candidatos, assumido no calor da campanha e evidenciado pelo ritual destrutivo das mútuas acusações e infrutíferas frases de efeito.

A propagada preocupação com a ética e com o respeito ao eleitor não passam de declaração de intenções, visto que ambas são superadas pela ânsia do poder a qualquer preço.

Particularmente no contexto brasileiro, restaram no segundo turno opções de partidos tipicamente antagônicos pela trajetória política que os consolidou como alternativas nacionais, mas claramente semelhantes no que concerne às práticas de gestão pública e ao pragmatismo da formação de alianças.

O exercício democrático do voto está claramente limitado pela ausência de alternativas ideológicas ou programáticas. O eleitor precisará fazer uma escolha que pouco representará em termos de caracterizar uma visão de Estado ou um modo de governar.

A descrença do cidadão com as instituições, a falta de aprofundamento das questões prioritárias do país e o descompromisso dos governantes com a participação coletiva tendem a estimular a alienação social, isolando a atuação dos legisladores e burocratas.

É preciso que se retorne aos debates principais, como a saúde, educação, geração de emprego, entre outros, explicitando-se as propostas existentes para a melhoria do país, e proporcionando aos brasileiros o reconhecimento de diferenças que existam entre os candidatos oponentes.

Esse é o serviço a que se prestam os horários na mídia e os debates ao vivo oportunizados pelos meios de comunicação social. Ou se estará tendo a impressão de ser um mero formalismo, para justificar todo o aparato institucional que se disponibiliza para o evento eleitoral. E não parece o caso.

24 setembro 2006

APRENDIZADO ELEITORAL

Em plena fase final da campanha eleitoral, torna-se evidente a fragilidadedas agremiações partidárias, desfiguradas de ideologias e carentes de inserção social. A criação dos partidos politicos no ambiente pós-ditadura se deu em um contextode ressentimentos e expetactivas quanto ao sucesso da experiência democrática.
O Partido dos Trabalhadores surgiu dessas esperanças, alimentadas pela energia dos movimentos sindicais nas grandes cidades, das demandas culturais pela livre expressão, dos grupos religiosos e comunitários nas periferias. O PT que elegeu Lula em 2002 é resultado de uma jornada de duas décadas semeando a oposição ferrenha às elites dirigentes, de uma estruturação orgânica e nacional, ora acompanhando, ora liderando o amadurecimento da sociedade, na sua atitude de cidadania.
Lula chegou em Brasilia saudado por amplas massas, intelectuais e até por estadistas e governantes mundiais como a solução para um país com baixa estima, complexas desigualdades sociais e necessidades urgentes decrescimento econômico e geração de empregos. Levou na bagagem um currículo rico em simbolismos inspiradores para a sociedade pela sua ascenção social de retirante nordestino à Presidente da República, pelo significado da participação do PT na construção democrática e pela ostentação insistente da autodenominada "bandeira da ética" que elevaria as relações entre o Estado e a coletividade a um novo patamar de decência e credibilidade.

Frustados esses prognósticos, a avaliação do atuação do governo nos ultimos quatro anos, concomitante a análise das alternativas existentes, acontecerá nas urnas, na eleição que se aproxima. Contudo, mais do que aprovar ou não esse modelo de gestão, o evento eleitoral é uma declaração de esperança da população brasileira, que mais uma vez delegará poderes a uma maioria de reeleitos, apesar de todas as desconfianças produzidas ao longo dos últimos quatro anos.

Convenhamos, trata-se de superar as crenças desenvolvidas nos últimos anos do século passado, de que um partido nascido de tão engajadas organizações sociais atuaria no poder central de modo a reparar as injustiças sociais balizado pela ética no rumo da prosperidade nacional.
Tomara, essa postura não seja decorrente de ignorância ou indiferença, mas numa atitude verdadeiramente democrática,que entende que a evolução do país é um processo intenso de contradições, e o aprendizado histórico é um caminho tortuoso, porém seguro para um povo que deseja crescer como nação.

20 setembro 2006

COSTUMES E INSTITUIÇÕES

Com o final da campanha eleitoral, voltaram a ocupar o noticiário e as primeiras páginas dos jornais, os escândalos protagonizados por políticos, burocratas e assessores governamentais.
A utilização de dossiês elaborados para atacar políticos adversários, o uso dos meios de comunicação de massa para sua divulgação - em especial, as revistas semanais - e a circulação de dinheiro de origem desconhecida estarrece a sociedade, abalando o clima democrático que deveria prevalecer no período atual.

A par do esclarecimento necessário das ilegalidades e imoralidades, e a responsabilização daqueles que as cometeram, resta a reflexão sobre a oportunidade de urgente reforma das instituições nacionais. A política e o sistema democrático são atingidos por intensa onda de descrédito, cuja manifestação mais explícita é o propagado movimento pelo voto nulo, que inevitavelmente alcançará fatia considerável do eleitorado.

A falência do Estado, no cumprimento de suas funçoes de mediação, proteção e prestação de serviços ao cidadão reflete uma crise de autoridade dos poderes constituídos aliado a ausência de contrapartida da sociedade, que preponderantemente ausenta-se da participação consciente, da atitude responsável e da atitude construtiva.

O redesenho da realidade brasileira não acontecerá por acaso, golpe de sorte ou medidas demagógicas. Somente a incorporação coletiva de um sentimento nacional e solidário, que produza atitude cidadã no presente e compromisso com o futuro, nos transportará para uma perspectiva nova.

O papel de cada indivíduo na comunidade, no trabalho e nas organizações ativas é a melhor contribuição para a construção da cultura da convivência ética, do desenvolvimento humano e da responsabilidade social. Uma resposta sólida e perene para os maus costumes que permeiam as instituições.

15 setembro 2006

TRABALHO EM EQUIPE

Gurus e marqueteiros; especialistas e pragmáticos; muitos se dedicam a publicar e promover os caminhos para as vitórias pessoais. Líderes são alçados às elites dirigentes após experiências bem sucedidas à frente de suas equipes e organizações. Ainda não se apurou a fórmula para o sucesso dos empreendimentos humanos, nem se traçou estrada definitiva para resultados duradouros.
Sabe-se que o reconhecimento dos esforços e habilidades das pessoas é uma das atitudes de líder, capaz de multiplicar o potencial existente. Também é verdade que planejamento, controle e aperfeiçoamento das ações são instrumentos clássicos de gestão, contidos nos livros texto de administração.
Mas a mais complexa e desafiadora característica de uma organização vencedora é o trabalho em equipe. Uma verdadeira equipe não se forma pela localização geográfica, pelo grau hieráquico ou pela estrutura organizacional. A construção do comprometimento coletivo, do respeito à ética, do melhor aproveitamento das individualidades e da união de esforços, é resultado um movimento amplo, desenvolvido por líderes e liderados. A confiança dos membros da equipe em si mesmos realimenta a força do grupo para novos desafios. As atitudes disseminadas e praticadas no cotidiano dão credibilidade ao sentido de solidariedade operativa que leva aos resultados desejados.
Empreender ações efetivas, definir objetivos claros e correções de rumo adequadas são ingredientes importantes de um grupo vencedor. Não existem mágicas. Praticar o básico, adotar o simples pode ser muito eficiente. Principalmente quando as pessoas são protagonistas, e não meros espectadores em seu ambiente profissional.

07 setembro 2006

ELEIÇÕES E INDEPENDÊNCIA

Como acontece em todo sete de setembro, milhares de brasileiros compareceram aos desfiles cívico-militares para a celebração da data símbolo da soberania nacional, que representou a independência brasileira do domínio imperial português.

As informações tradicionalmente repassadas
pelo modelo educacional vigente alimentaram a crença de que o nascimento do Brasil como país soberano esteve repleto de pompas e simbologias fantasiosas.

Diante da revelação desse evento de forma mais adequada à realidade e dimensão dos fatos, não se busca diminuir a importância histórica desse movimento político, início do reinado da família Orleans e Bragança, a sua superação pelos generais da república velha e suas mazelas autoritárias, até chegarmos à construção democrática atual.

O momento presente é de expectativa de avanços no sistema político, de crescimento econômico com diminuição das desigualdades sociais, de melhorias nascondições da educação, saúde e seguridade social para a ampla maioria da população.

É sensato supor que essas distorções não sejam eliminadas de imediato pelos vitoriosos no embate eleitoral, seja pela complexidade e diversidade dos problemas que se apresentam,
seja pela qualificação duvidosa dos escolhidos, a julgar pelos acontecimentos que se sucedem nas câmaras e assembléias em todo o país, e mancham a confiança otimista dos eleitores na via representativa e democrática de gestão do Estado.

Ainda assim, o cidadão tem sua oportunidade de participar das decisões futuras através do voto.

Se o sentimento de incredulidade popular nas instituições políticas é uma realidade, também é verdade que o sufrágio próximo é o melhor instrumento que a sociedade possui para ousar alterar o rumo dessas mesmas instituições.

Uma ousadia vigilante, uma esperança engajada, uma opção consciente. Esta é a nossa melhor expressão de independência.


01 setembro 2006

CONFLITO NO ORIENTE MÉDIO

A história da civilização está sendo mais uma vez atingida por momentos de impetuosidade e arrogância.

Valores humanos são facilmente suplantados por interesses comerciais e políticos menos nobres, expondo cidades e povos à morte e à destruição.

Para a escalada evolutiva da sociedade humana as guerras atuais são apenas novos desdobramentos de um aprendizado difícil, construído em milhares de anos de lutas, catástrofes e descobertas.

À nós, contemporâneos dessa demonstração grosseira de primitivismo, cabe a reflexão consciente, a manifestação pacífica, a atitude solidária.

Os acontecimentos no oriente médio dizem respeito a todo o mundo.

As causas da intolerância entre oponentes, com desfecho bélico naquele contexto são encontradas facilmente em nosso cotidiano.

A busca prepotente de afirmação sobre os outros, a disputa por espaços territoriais, os preconceitos raciais e religiosos, os ganhos financeiros obtidos de modos ilícitos, são todos fontes de alimentação de situações de intensos confrontos e conseqüências negativas imprevisíveis.

Os momentos de perplexidade diante das cenas televisivas sobre o conflito devem dar lugar a aspirações mais profundas sobre um modo de vida mais harmonioso com as pessoas e o meio ambiente.

Trata-se de construir novas alternativas de vida, novas posturas sociais, comportamento ético.

Nosso país, nossas cidades, nossas comunidades são a nossa oportunidade de construirmos um futuro menos sombrio para as próximas gerações.

Ou esse momento não terá servido, como severa lição para a humanidade.

A ÉTICA E OS ELEITORES

Os principais fatos da política nacional desde o ano passado estão relacionados com a postura ética - ou a falta dela - dos representantes dos poderes constituídos.

As investigações dos parlamentares no Câmara Federal, a atuação da imprensa livre e a participação dos cidadãos das mais diversas formas, expuseram definitivamente um quadro assustador, além do que se imaginava, sobre as possibilidades de mau uso dos recursos dos contribuintes.

O embate público ora entre os poderes, ora entre correntes políticas, aconteceu de forma pouco esclarecedora sobre as raízes do enorme derrame de dinheiro que abasteceu privilegiados e corruptos, desviando-se da verdadeira finalidade, a prestação de serviços públicos e o bem comum.

O momento eleitoral deveria revigorar os ideais dos candidatos, os planos partidários e as aspirações dos eleitores.

A ética na política, que promete se tornar jargão das campanhas dos candidatos, não pode ser isolada do ambiente social.

Devemos sim, exigir que nossos candidatos assumam compromissos públicos e tenham condições de os cumprir. Dispensamos a verbalização exagerada de promessas impossíveis.

Mas, por estranho que possa parecer, os políticos são representantes daqueles que os elegem. A sociedade que os acolhe como líderes, e os delega tão nobres funções, é partícipe das suas atitudes no exercício dos cargos públicos.

É o momento de refletirmos sobre nossas posturas individuais, que se multiplicam anonimamente nas multidões das grandes cidades, e imperceptíveis, vão caracterizando o modo de ser da nossa sociedade.

Desnecessário citar exemplos, incoerente inventar desculpas, vexatório transferir responsabilidades.

O primeiro passo para um país mais ético tem que ser individual, decisivo, independente e autêntico.

LIÇÕES DA COPA - O DIA SEGUINTE

Neste fim de semana de decepção futebolística
aprendemos lições importantes sobre a importância da solidariedade,
da humildade e da liderança.

A atuação apática da equipe brasileira demonstrou
como a soberba e a indiferença resultam na incredulidade,
na ausência de objetivos, na falta de perspectiva de futuro.

Os apaixonados e palpiteiros de plantão inflaram nosso orgulho,
e ignoraram que diante do nosso entusiasmo, os adversários trabalharam,
prepararam e ensaiaram as estratégias necessárias para nos enfrentarem.

A realidade nos fez ver que a genialidade de alguns
não constrói a vitória de todos, se todos não fizerem parte
do caminho que leva a ela.

No esporte, como na vida, construímos um amanhã melhor
quando aproveitamos o melhor de cada um na construção do novo,
no alcance do sucesso.

Felizmente, somente a exclusão do Brasil
das finais da Copa do Mundo é definitiva.

Na construção de um país melhor, ainda estamos dentro.
Pra frente, Brasil !

CAMPANHA ELEITORAL

A campanha eleitoral à Presidência da República ganha exposição na mídia.

Destacam-se nas primeiras aparições dos candidatos,
em monólogos para convencionais partidários,
posturas pouco esclarecedoras, dirigidas para o consumo interno,
motivando a militância com frases de efeito e conteúdos duvidosos.

Evidencia-se principalmente o caráter emocional dos discursos,
predispostos a exacerbação de preconceitos
e proliferação de falsas verdades com intuitos conhecidos.

É preciso que a sociedade - o papel da imprensa é fundamental -
exija revelações claras sobre propostas de governo.

Dos principais candidatos é possível prever que os rumos do debate
ficarão entre comparativos de desempenho,
intencionalmente descolados das influências da economia mundial,
e impulsivas demonstrações de defesa da ética no poder federal.

Nosso país quer olhar para a frente mais próspero e desenvolvido,
onde as pessoas façam parte desse desenvolvimento.

Crescimento econômico pode ser aliado de medidas
que protejam o meio ambiente e garantam futuro das novas gerações.

Os últimos governantes esmeraram-se em estabilizar a economia,
combatendo a inflação e no acesso generalizado de crédito.

O próximo passo é preparar-se para crescer e produzir,
com educação humana e competitiva, gerar empregos sustentáveis,
aprofundar as vocações regionais estimulando o interior do país
e combatendo o esgotamento das grandes cidades.

Com quais estratégias construiremos o nosso futuro
é o debate que verdadeiramente importa.

É o que esperamos aprofundar nos próximos meses, até a eleição,
com a colaboração daqueles que almejam governar.

SEGURANÇA PÚBLICA

Especialistas, comunicadores e políticos debatem frequentemente
sobre assunto dos mais polêmicos em nossas cidades:
a questão da segurança.

Das atrocidades cometidas pelos criminosos,

passando pela intervenção insuficiente dos poderes constituídos,
até a nossa omissa atitude de cidadãos comuns,
um longo caminho de aviltamento da dignidade humana

vai sendo traçado.

A questão da violência como ato humano hostil

transcende as mazelas contemporâneas
que transformam a vida dos povos do terceiro mundo
em terrenos férteis para toda sorte de irracionalidades.

O homem é uma espécie heterogênea,

com variados graus de civilidade
e uma infinita diversidade de aspirações individuais.

Ao focarmos este debate reduzindo-o ao contexto atual,

partimos de classificações objetivas e parciais,
categorizando atos e pessoas

segundo visões impregnadas de nossa experiência social,
carecendo de uma perspectiva construtora da humanidade.

A necessária atuação coercitiva do poder público

precisa ser acompanhada de iniciativas sociais
que incluam as pessoas na vida social,

na aquisição de conhecimentos, na moradia digna,
na reabilitação da saúde, na participação comunitária.

A simples delegação de poderes aos políticos

não isenta a sociedade dos cidadãos comuns
da atitude fraterna, pró-ativa,
na eliminação de preconceitos e arrogâncias
que alimentam ódios sociais e sentimentos hostis.

Ainda assim, o modelo penitenciário, o regime jurídico,

a ação policial persistirão.

É preciso que sejam fundamentados em novas bases,

com criatividade, sob uma ótica humana histórica, permanente,
e não sob a transitoriedade do fascínio e
da perplexidade que nos afrontam.

É o convívio social em todas as suas dimensões

que precisa ser repensado.

E a questão da segurança das ditas “pessoas de bem”

será resultado de demonstrações coletivas de responsabilidade sobre os indivíduos,
as cidades e as suas organizações sociais.

ANTES DA COPA

Nos próximos dias estaremos diante dos televisores, unidos na torcida pelo Brasil na Copa do Mundo.

A cada quatro anos refazemos nossos votos de acalorado patriotismo e, suplantando nossos desafios cotidianos, supervalorizamos o brilho dos artistas do nosso mais típico espetáculo em busca da consagração final.

Esquecidas as mazelas da nossa sociedade, anestesiamos as dores da nossa civilização ferida, e concentramos nossas energias no ânimo esportivo, na batalha do magos da bola e suas piruetas encantadoras.

Como se fossem férias coletivas, o país "retira o time de campo". Mas, pensando bem, não vamos nos esquecer que no próximo dia 10 de julho, a vida volta ao normal.

Para descanso dos nossos ídolos que nos representam em sua audácia de demonstrar ao mundo civilizado, que nosso pobre país esbanja categoria e competência na arte de jogar futebol.

E para desalento nosso. Sim. Nós que continuaremos a conviver com a falta de compromisso dos políticos, com a desfaçatez dos governantes diante das suas responsabilidades, com a brutalidade dos motoristas enfurecidos em nosso caos urbano, com a desorientação dos nossos jovens frente a padronização consumista, com a perplexidade dos velhos ao ver "o rumo que as coisas estão tomando..."

Vamos nos empenhar em algo mais nobre do que colorir as ruas, aglutinar torcidas e comemorar vitórias da Seleção Brasileira ao som de despreocupados pagodes e cervejas geladas.

Nada indica que após a Copa os empregos vão aparecer, os impostos vão cair e seremos um povo mais educado e rico.

O segundo semestre traz a perpetuação da euforia futebolística, transformada em ufanismos políticos regados por discursos evasivos e carentes de adesão à vida real.

O imperfeito processo democrático é o melhor instrumento que temos para interferirmos na viabilização do Estado construtor e protetor da sociedade. As decepções que tivemos nos últimos meses são lições históricas e a resposta concreta que podemos dar certamente não deve ser a de cruzarmos os braços e "esperarmos para ver como é que fica".

Alternativas de consumo inteligentes, organizações voluntárias atuantes, fiscalização constante das autoridades, meios de comunicação independentes e um modo de vida mais ético são boas pedidas para o recomeço do nosso ano.

Se tudo isso vai dar certo é cedo para se dizer. Mas é melhor pensar nisso desde já.

A OPÇÃO DO VOTO

A possibilidade de anular ou abrir mão da escolha de um
representante no parlamento ou de um mandatário de cargo
executivo pelo eleitor remete-nos ao problema da
participação do cidadão na construção da democracia.

O modelo de democracia representativa adotado no Brasil,
carece de aperfeiçoamentos, como por exemplo a possibilidade
de revogação de mandatos pelo eleitor, em caso de fraude
ideológica ou a questão da fidelidade partidária - uma obviedade
levando-se em conta a motivação que deveria levar
um grupo de pessoas à criação de um partido.

O voto na urna é - de fato - o único instituto pelo qual o cidadão
exerce papel decisório, com vistas a alterar favoravelmente
o cenário político atual.

A participação popular nos movimentos sociais, sindicatos,
ONGs e demais organizações da sociedade civil,
constitui-se em espaço importante de aprendizado coletivo,
de experimentação da atuação solidária,
de aprimoramento das conquistas democráticas.

Tais movimentos não substituem o sufrágio obrigatório,
pelo seu caráter soberano e individual,
expresso na escolha dos eleitos.

Esse ato, entretando, precisa ser acrescido
de uma observação atenta das atuações de governantes
e legisladores, apreciando realizações, criticando imperfeições
e desonestidades, estabelecendo uma relação compromissada,
dando verdadeiro sentido à representação.

Votar em branco ou anular o voto é uma alternativa simplista,
que não contribui para o desenvolvimento de uma consciência
política madura, para o presente e para o futuro do país.

A FORÇA DO POVO