12 dezembro 2008

TRAGÉDIA E AVANÇO

A tragédia climática que atinge as populações de parte dos estados de Santa Catarina principalmente, Rio de Janeiro e Espírito Santo, tornou-se a grande urgência nacional.

As regiões afetadas pelas chuvas excessivas, são exemplares de situações de degradação do solo combinadas com a ocupação urbana desordenada.

Estas situações transformam-se em geradores potenciais dos desmoronamentos de terra, transbordamento de rios e destruição generalizada que foram vistos nas ultimas semanas.

Eventos agudos de sofrimento das populações atingidas pelas chuvas podem ser recordados, em meados dos anos 80 – na cidade de Blumenau - e na serra fluminense em 2001.

A ausência de uma intervenção sólida dos poderes municipais na organização do espaço urbano, especialmente nas questões que envolvem saneamento e habitação, adiam as soluções e prolongam o sentimento de apreensão coletiva.

Nessas horas, desponta entre nós a solidariedade com as pessoas que foram arrancadas de suas casas, destituídas de seu patrimônio para preservarem a própria vida.

Uma mobilização ampla, da qual podemos nos orgulhar, como brasileiros.

É necessário avançar.

Precisamos incluir na agenda nacional, mais do que uma energia emocional positiva, que demonstra sensibilidade com as tragédias imediatas.

Trata-se de acumular experiências de gestão, conhecimento atualizado e planejamento de médio e longo prazo que contribuam para a modificação do modelo de urbanização concentrada.

Qualidade de vida não deveria estar relacionada apenas aos bairros e condomínios planejados para as classes mais favorecidas ou às regiões turísticas para a época de férias.

Existem pelo mundo afora, e mesmo no Brasil, exemplos de cidades estabelecidas com padrões superiores ao que é generalizado no país.

O momento é propício para a formação de uma nova concepção de vida urbana, onde os parâmetros de bem estar e sustentabilidade sejam valores coletivos e permanentes.

02 novembro 2008

DECLINIO AMERICANO


A posição de liderança que os americanos ocupavam no mundo contemporâneo vem sendo abalada continuamente, por acontecimentos que não podem ser refutados historicamente.

Desde a queda das economias fechadas e controladas pelo poder soviético, nos anos noventa, o mapa do capitalismo começou a ser significativamente redesenhado.

Rússia, Índia, e principalmente, a China, avançaram tecnologicamente, exploraram positivamente seu potencial de consumo, e tornaram-se referências mundiais em crescimento consistente.

Os europeus seguiram seu cronograma federativo, criaram uma moeda forte e reforçaram sua solidez institucional, elevando a importância do bloco no mercado mundial.

Dependentes do petróleo do Oriente Médio, os americanos se envolveram nas últimas décadas, em desgastantes conflitos, expondo seus homens ao fanatismo bélico dos iranianos, iraquianos e afegãos, contrariando a opinião pública interna e externa.

Para encerrar essa trajetória negativa para os negócios nos Estados Unidos, surge a crise bancária, resultado de uma seqüência de decisões malsucedidas, que fragilizaram seu sistema econômico.

A dificuldade em enfrentar os sintomas da perda de lastro das operações originadas dos empréstimos hipotecários, teve como conseqüência a vulnerabilidade de todas as instituições financeiras que de alguma forma atrelaram seus ativos a esses papéis.

O resultado é uma crise global de confiança na sustentabilidade do sistema financeiro mundial, desencadeada pela maior potência econômica, vista outrora como exemplo de eficiência e prosperidade.

14 outubro 2008

CREDIBILIDADE

A crise financeira cujos efeitos alastram-se pelo mundo inteiro, proporciona uma substanciosa reflexão sobre o papel da credibilidade em economia.

Credibilidade, como o nome diz, indica o status de quem, por trajetória consolidada ou reputação reconhecida, mereça crédito, seja nas suas ações ou afirmações, seja nos compromissos assumidos.

Embalados por um otimismo sobre a economia mundial dos últimos anos, acompanhado pela alta liquidez do seu sistema financeiro, os americanos desprezaram a receita insistentemente prescrita aos países em desenvolvimento, e fermentaram uma massa de créditos hipotecários de grande vulnerabilidade.

Ausência do Estado, aquecimento dos preços dos imóveis, falta de instrumentos de análise de crédito e altas nas taxas de juros, são os ingredientes de uma malsucedida expansão das carteiras de empréstimos imobiliários.

Expoentes do capitalismo mundial, os americanos já tinham espalhado pelo mundo todo papéis nascidos desse mercado vulnerável, pulverizando os reflexos de uma crise que se tornou global.

O gigante americano, com seu poder de influência relativizado após a abertura econômica de países como a China e a Rússia, com a ascensão dos emergentes e a solidez do Euro, ainda é capaz de exportar tensões de natureza econômica pelo planeta, antes voltadas aos assuntos geopolíticos.

As conseqüências da desvalorização dos imóveis financiados, e em seqüência das carteiras hipotecárias, geraram ambiente desfavorável que atingiu o sistema o financeiro mundial, contaminado pela dilapidação dos ativos lastreados por essas operações.

Governos do mundo inteiro, a começar pelos Estados Unidos, aceleram ações de recomposição do patrimônio dos bancos afetados pela crise, buscando recuperar em curto prazo sua saúde financeira, numa mensagem positiva aos mercados.

Mais do que recursos monetários, colocados a disposição tempestivamente pelas autoridades nacionais, trata-se de salvar a crença na lógica das premissas básicas de funcionamento dos bancos, reconquistando a credibilidade de todo o sistema financeiro.

02 setembro 2008

DECISÕES NACIONAIS

A recente participação do Supremo Tribunal Federal nos debates mais emergentes na sociedade é um sinal promissor para o avanço ético e cultural da população.

O poder judiciário, ao enfrentar as questões nacionais com o exercício nobre das suas capacidades intelectuais e sob a aura da legítima credibilidade da defesa constitucional, emana uma mensagem positiva para a convivência social.

Temas polêmicos estão sendo expostos à exaustão, mesmo quando chocam os costumes tradicionais, transgridem as conveniências políticas e questionam os dogmas religiosos.

A instância judicial máxima no país referendou o uso de células tronco nas pesquisas científicas, condenou o nepotismo político e a infidelidade partidária, além de defender por diversos meios a dignidade do cidadão.

Num país em que legislar é ato carregado de interesses localizados que não vislumbram o avanço da nacionalidade, destacam-se a soberania das decisões judiciais plenas de significado para o desenvolvimento permanente da democracia.

08 agosto 2008

CONTRADIÇÕES E SUBDESENVOLVIMENTO

O aperfeiçoamento da convivência social no Brasil requer o enfrentamento de seus vícios históricos, de suas mazelas autoritárias, de seus estereótipos sociais.

Há pouco, comemoramos os quinhentos anos da presença européia na “Terra do Pau Brasil”, quando se concebeu a possibilidade de transformar essa vastidão de riquezas naturais habitadas pelos índios em uma província modelada pela inspiração colonizadora do velho mundo.

Passado meio século, gostaríamos de poder contabilizar reais avanços civilizatórios, que enchessem de orgulho os descendentes de nossos “descobridores”, para podermos freqüentar com altivez o clube dos países desenvolvidos.

Em meio a quase uma década de tímido crescimento econômico, nosso país amarga ainda a desonra de enormes contradições internas, cujos sintomas nos remetem ao primitivo, ao selvagem, ao truculento.

Alguns estados e muitos municípios ainda são governados como capitanias hereditárias, sujeitando cidadãos à arrogância e ao descaso com o bem comum.

A educação formal derrapa na escassez da qualidade e no despreparo dos abnegados professores, que idealizam para ensinar e sofrem para sobreviver.

As iniciativas públicas de transporte urbano são preparadas para o desempenho da indústria automobilística e não para o conforto e mobilidade das pessoas.

E as prisões, destino dos atingidos pelas políticas de segurança, são amontoados de humanos à espera de oportunidades de fuga ou entregues à violência dos “chefes” de gangues organizadas.

A salvo dessas condições catastróficas, membros das elites políticas e financeiras gozam de melhor sorte, quando penalizados por todo tipo de falcatruas e assaltos aos cofres públicos.

Instituições governamentais e poderes constituídos defendem a honradez e a integridade de seus pares, que por “deslizes” morais são submetidos a força policial engendrada desde sempre para punir os mais humildes.

O estarrecimento com tratamentos normalmente adotados nas prisões dos homens comuns e a interminável munição jurídica que os livram do cárcere, delatam a face classista da segurança pública.

Alheios a ojeriza popular, autoridades distantes do mundo real fazem valer a proteção do “status quo”, em prova de indisfarçável conivência e omissão.

A categoria de país subdesenvolvido não será superada apenas pelas estatísticas frias dos resultados comerciais, mas principalmente por condições mais evoluídas de igualdade social e convivência ética.

É preciso um enorme esforço humanista, uma exemplar afirmação das condutas positivas, para que num futuro não muito distante possamos harmonizar o crescimento material e o desenvolvimento de uma identidade brasileira respeitada.

08 julho 2008

A REDE E O HOMEM

A recente pane no funcionamento da Internet traz à luz uma diversidade de indagações sobre o presente e o futuro das atividades humanas.

Há não menos que quinze anos, sobrevivíamos muitos, sem a compulsiva presença dos atuais meios tecnológicos de comunicação mais populares: internet e telefonia celular.

O nostálgico contato humano das corporações de comércio e serviços foi substituído pelas “plataformas interativas” e seus atendentes anônimos.

O celular não aproximou as pessoas, mas possibilitou uma comunicação instantânea e ampliada em todas as direções.

A rede mundial de computadores – popular “internet” – tornou-se o oxigênio indispensável para uma geração que joga, brinca, fala e entende-se neste novo universo.

Serviços públicos, bancos, pessoas e organizações dependem dessa via imaginária para andar em frente e realizar seus propósitos.

Difícil imaginar o que foi construído no passado sem os benefícios e imediatismos dos sistemas contemporâneos.

Somente se explicam tais feitos pela capacidade de realização do homem, que não desanimando frente às dificuldades, impôs-se a construção do progresso.

O momento é de reflexão sobre a imperativa atitude humana sobre o modo de convivência e desenvolvimento que se quer construir.

Alerta para a indelegável responsabilidade individual que permeia todas as relações e negócios, independentemente das suas generalizações tecnológicas.

Em qualquer tempo, é o homem, através das suas decisões e ações, que forja o futuro da sociedade.

12 março 2008

COLAPSO VIÁRIO

O colapso eminente do sistema viário de São Paulo simboliza o que existe de mais perverso em matéria de deterioração da mobilidade urbana e o problema precisa ser enfrentado com competência técnica e gestão governamental eficaz.

A lógica da metrópole que emana poder econômico, que concentra aglomerados populacionais e que respira agressividade ao meio ambiente sucumbe a cada dia.

Os números alarmantes dos rotineiros congestionamentos a que estão expostos mentes e pulmões de milhares de pessoas soam como um hino diário à insuficiência da gestão pública diante da grandeza das dificuldades que precisam ser superadas.

Teóricos de soluções rápidas não são bem-vindos ao debate urgente que toda a coletividade precisa fazer e que deve incluir não só a imolação contundente das responsabilidades alheias, mas também a coragem das nossas contribuições generosas.

Discrepâncias de fluxos mal estruturados que privilegiam os veículos individuais e atormentam os usuários dos meios de transporte coletivos divergem das intenções bem formuladas dos planejadores governamentais em seus programas quadrienais.

Hábitos individualistas de locomoção são estimulados por um crescimento da oferta sem precedentes na indústria automobilística, que incorporam centenas de novos veículos ao espaço metropolitano diariamente.

O crescimento desordenado das habitações irregulares e precárias, alimentado por um êxodo persistente das regiões menos favorecidas do país nos últimos quarenta anos acentuam a complexidade dos diagnósticos necessários.

A pior atitude no momento é a da introspecção descompromissada. Tão importante quanto opinar e participar de decisões abrangentes num contexto de variáveis tão complexas é a decisão de combater a violência das ruas contaminadas pela ambição indiferente.

É preciso ceder um espaço na via para quem atravessa, um banco confortável para um carona, um tempo de descanso para a cidade que não para.

A alternativa possível não está em nossas mãos. O caos do presente ruma para o extremo inevitável: o espaço finito em transbordamento paralisante.

Ainda é possível evitar. Façamos a nossa parte.

04 fevereiro 2008

ECONOMIA E CARNAVAL

Ainda não estão totalmente esclarecidos os desdobramentos da crise econômica que atinge os Estados Unidos e repercute em todo o mundo, inclusive o Brasil.

A recessão da secular grande potência mundial causa desconforto na sua população acostumada à absoluta prosperidade nos últimos sessenta ou setenta anos.

Da vulnerabilidade das carteiras hipotecárias à elevação dos índices inflacionários, os efeitos da crise acompanham diminuição do consumo e a conseqüente queda nas importações mundiais.

Anestesiados pela alegria carnavalesca, os brasileiros contam com a eficiência dos membros da área econômica do governo, para que protejam a solidez e credibilidade conquistadas nos últimos anos, à custa de outras prioridades sociais.

A continuidade do crescimento econômico deve ser posta à prova pela primeira vez em um momento global desfavorável, motivo pelo qual os mercados acionários esboçam reações de justificada apreensão.

Embora não dependa das importações americanas, o Brasil sofrerá os efeitos colaterais das restrições ao consumo nos Estados Unidos, que atingirão o mundo inteiro graças ao significativo volume que alimenta os mercados mundiais.

O momento é de concentração nas potencialidades do nosso território, ritmo e harmonia na nossa capacidade de produzir com escassa infra-estrutura, e sensibilidade da comissão de frente da equipe econômica para percorrer o melhor caminho em direção à uma nova fase de estabilidade.

21 janeiro 2008

NOVA CIDADE

A qualidade de vida na cidade está diretamente relacionada à quantidade de vidas humanas que usufruem e interagem nessa mesma cidade. É inescapável a qualquer debate sobre o urbano, o fenômeno secular da concentração populacional.

Recente pesquisa da ONU anuncia que em 2007, a população urbana ultrapassou a metade do universo populacional mundial, ou seja, pela primeira vez, a população urbana superou a população rural.

Para nós, habitantes da América Latina, o cenário é ainda mais expressivo: 75% da população concentram-se nos grandes centros urbanos.

Esses números, por si só, constituem um diagnóstico negativo para o avanço do desenvolvimento humano e da prosperidade coletiva.

A convivência social que se estabelece nas grandes cidades acumula ingredientes de primitivismo e selvageria que não acompanham as inovações tecnológicas e as descobertas científicas do nosso tempo.

O anonimato das multidões sugere a desatenção às regras de conduta mais elementares. As vias e espaços congestionados, a ocupação intensiva do solo e a escassez de serviços públicos indispensáveis para grande parte da população alimentam a cultura das diferenças de classe e a profusão da violência e da contravenção.

A agressão contínua ao meio ambiente em seus diversos elementos necessários a sobrevivência no planeta afeta a saúde dos nossos dias e compromete o habitat das próximas gerações.

O planejamento urbano sério é uma necessidade urgente que transcende a atuação dos políticos governantes em suas carreiras ensimesmadas, e requer administradores públicos que compreendam o papel histórico e antropológico de suas intervenções na vida coletiva.

Exemplos isolados de participação popular nas decisões políticas e de organização estratégica do espaço público sempre fortalecem a idéia de que é possível tornar as metrópoles mais aconchegantes e humanas.

Constatar que Bogotá figura entre as cidades que conseguiram fazer com que a inclusão social se tornasse uma realidade mais forte que a violência da indústria da droga, que Nova York tenha se transformado em exemplo de cidade segura, que Porto Alegre tenha mostrado sua democracia participativa ao mundo inteiro através do Fórum Social Mundial, e que Petrópolis tenha passado por um projeto de reurbanização que valorizou os pedestres frente ao uso excessivo do carro particular, são alentos para quem procura fortalecer o equilíbrio da vida em sociedade.

Uma nova cidade, um novo mundo é possível. O caos urbano não é inevitável. A formação de uma civilidade urbana mais elevada não é uma fantasia. Construir o futuro é uma missão contemporânea, indelegável e decisiva. Para todos nós, que já partimos da experiência de viver o presente, sobreviventes do planeta azul.

A FORÇA DO POVO