21 janeiro 2008

NOVA CIDADE

A qualidade de vida na cidade está diretamente relacionada à quantidade de vidas humanas que usufruem e interagem nessa mesma cidade. É inescapável a qualquer debate sobre o urbano, o fenômeno secular da concentração populacional.

Recente pesquisa da ONU anuncia que em 2007, a população urbana ultrapassou a metade do universo populacional mundial, ou seja, pela primeira vez, a população urbana superou a população rural.

Para nós, habitantes da América Latina, o cenário é ainda mais expressivo: 75% da população concentram-se nos grandes centros urbanos.

Esses números, por si só, constituem um diagnóstico negativo para o avanço do desenvolvimento humano e da prosperidade coletiva.

A convivência social que se estabelece nas grandes cidades acumula ingredientes de primitivismo e selvageria que não acompanham as inovações tecnológicas e as descobertas científicas do nosso tempo.

O anonimato das multidões sugere a desatenção às regras de conduta mais elementares. As vias e espaços congestionados, a ocupação intensiva do solo e a escassez de serviços públicos indispensáveis para grande parte da população alimentam a cultura das diferenças de classe e a profusão da violência e da contravenção.

A agressão contínua ao meio ambiente em seus diversos elementos necessários a sobrevivência no planeta afeta a saúde dos nossos dias e compromete o habitat das próximas gerações.

O planejamento urbano sério é uma necessidade urgente que transcende a atuação dos políticos governantes em suas carreiras ensimesmadas, e requer administradores públicos que compreendam o papel histórico e antropológico de suas intervenções na vida coletiva.

Exemplos isolados de participação popular nas decisões políticas e de organização estratégica do espaço público sempre fortalecem a idéia de que é possível tornar as metrópoles mais aconchegantes e humanas.

Constatar que Bogotá figura entre as cidades que conseguiram fazer com que a inclusão social se tornasse uma realidade mais forte que a violência da indústria da droga, que Nova York tenha se transformado em exemplo de cidade segura, que Porto Alegre tenha mostrado sua democracia participativa ao mundo inteiro através do Fórum Social Mundial, e que Petrópolis tenha passado por um projeto de reurbanização que valorizou os pedestres frente ao uso excessivo do carro particular, são alentos para quem procura fortalecer o equilíbrio da vida em sociedade.

Uma nova cidade, um novo mundo é possível. O caos urbano não é inevitável. A formação de uma civilidade urbana mais elevada não é uma fantasia. Construir o futuro é uma missão contemporânea, indelegável e decisiva. Para todos nós, que já partimos da experiência de viver o presente, sobreviventes do planeta azul.

A FORÇA DO POVO