14 setembro 2010

FONES DE OUVIDO

Os fones de ouvido são discretos, não tem muito espaço na mídia, sua fórmula de fabricação não parece ter sido alvo de grandes transformações nos últimos anos – pelo menos para um leigo.

Num tempo de tantos recursos eletrônicos, associados com equipamentos de informática e comunicação de última geração, que importância daríamos àquele “fiozinho” que termina em um ou dois minúsculos alto falantes, que encaixamos no ouvido?

Na verdade, eles dizem muito sobre a nossa civilidade atual. Ou você nunca teve que bater no ombro de um filho, para pedir atenção, enquanto ele, distraído, ouvia sua música particular? E o morador do prédio, que já entra no elevador ouvindo música, deixando pra lá os cordiais cumprimentos ao seus vizinhos?

Vivemos em um paradoxo colossal: estamos tanto mais interligados mundialmente que não queremos mais conversa com nosso vizinho.

Na nossa abstração tecnológica, o mundo está em nossas mãos, mas não precisamos nos importar com ele. Buscamos na rede o que nos interessa, falamos para muitos e ouvimos ninguém, exploramos recursos infinitos sem que nos peçam qualquer contribuição. Tudo ali ao nosso alcance.

Tudo? Claro que nasci na geração que não acha que o mundo virtual é tudo, mas é bem provável que os novos ocupantes do planeta gradativamente passem a pensar assim.

Ainda preciso conversar com o vizinho, com o porteiro do prédio, dar bom dia aos colegas quando chego no trabalho, enfim, ainda não me retirei para minha bolha virtual.

Sei que algumas pessoas não gostam de muita conversa, mas muitas precisam ser ouvidas. Para mim, é óbvio que se cada um se retirar para sua sessão particular de música, todos os objetivos da humanidade sucumbem em questão de horas.

Mas mesmo assim, vou procurar me harmonizar com os fones de ouvido. Eles não existem para nos separar, não é mesmo?

A FORÇA DO POVO