07 novembro 2006

DESCONTROLES

Exposta cruamente a deficiência da nossa sociedade em alcançar novos padrões de entendimento quando estimulada pela verdade dos fatos e a dor dos acontecimentos funestos.

Suplantando reflexões equilibradas, arroubos ideológicos e politiqueiros irrompem na mídia, apresentando idéias mirabolantes para problemas complexos, como a crise da aviação comercial sob efeito de manifestação silenciosamente organizada pelos controladores de tráfego aéreo.

Diante do exacerbado descontentamento dos usuários dos vôos domésticos, poucas vozes foram capazes de discernir que o maior dos problemas não estava no momentâneo atraso das decolagens, mas na atitude com a qual nossa sociedade utilitarista quer enfrentar desafios estruturais nos momentos de eclosão das crises.

Categorias profissionais encarregadas de serviços vitais para a coletividade são inescrupulosamente ignoradas até que um movimento reivindicatório lhes coloca em destaque na mídia e nos debates públicos e institucionais.

Para uma contemporaneidade crédula de que o mercado ajustará ofertas de produtos e serviços às demandas e necessidades da população, cabe lembrar de tantas outras atividades desinteressantes para a formação imediata de lucros, mas indispensáveis à sobrevivência da população, especialmente aquelas de menor poder de compra.

Como no caso dos controladores de tráfego aéreo, cuja abnegação pelo trabalho sem reconhecimento adequado rompeu-se após sucessão de fatos que demonstram enormes dificuldades para o desempenho de excelência que sua profissão requer, outras categorias carecem de atenção específica.

O segmento do trabalho nos debates políticos é continuamente abordado sob a ótica da quantificação de geração de empregos, sem uma estruturação ordenada de prioridades na formação de profissionais em escassez ou das necessidades de atendimento à populações periféricas, regiões de difícil acesso, profissões de risco ou políticas públicas em desenvolvimento.

São noticiados esporadicamente nos meios de comunicação casos de esgotamento de categorias ou atividades, que afetam drasticamente o bem estar e o cotidiano das pessoas: sobrecarga nos portos e agências alfandegárias, falta de profissionais da saúde em hospitais públicos nas periferias, ausência de fiscais ambientais, especialmente na Amazônia, entre outras.

Dispensa-se explorar o momento traumático vivenciado pelos familiares das vítimas do recente acidente aéreo, que é ponto de ebulição da conturbada semana vivida nos aeroportos brasileiros. Importante é extrair as lições desse episódio, orquestrando ações permanentes de atenção às atividades de risco, às necessidades vitais da população e a formação induzida de profissionais indispensáveis. E superar essa ansiedade descontrolada de inventar soluções de curto prazo, que sucumbem na próxima crise.

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