Nos próximos dias estaremos diante dos televisores, unidos na torcida pelo Brasil na Copa do Mundo.
A cada quatro anos refazemos nossos votos de acalorado patriotismo e, suplantando nossos desafios cotidianos, supervalorizamos o brilho dos artistas do nosso mais típico espetáculo em busca da consagração final.
Esquecidas as mazelas da nossa sociedade, anestesiamos as dores da nossa civilização ferida, e concentramos nossas energias no ânimo esportivo, na batalha do magos da bola e suas piruetas encantadoras.
Como se fossem férias coletivas, o país "retira o time de campo". Mas, pensando bem, não vamos nos esquecer que no próximo dia 10 de julho, a vida volta ao normal.
Para descanso dos nossos ídolos que nos representam em sua audácia de demonstrar ao mundo civilizado, que nosso pobre país esbanja categoria e competência na arte de jogar futebol.
E para desalento nosso. Sim. Nós que continuaremos a conviver com a falta de compromisso dos políticos, com a desfaçatez dos governantes diante das suas responsabilidades, com a brutalidade dos motoristas enfurecidos em nosso caos urbano, com a desorientação dos nossos jovens frente a padronização consumista, com a perplexidade dos velhos ao ver "o rumo que as coisas estão tomando..."
Vamos nos empenhar em algo mais nobre do que colorir as ruas, aglutinar torcidas e comemorar vitórias da Seleção Brasileira ao som de despreocupados pagodes e cervejas geladas.
Nada indica que após a Copa os empregos vão aparecer, os impostos vão cair e seremos um povo mais educado e rico.
O segundo semestre traz a perpetuação da euforia futebolística, transformada em ufanismos políticos regados por discursos evasivos e carentes de adesão à vida real.
O imperfeito processo democrático é o melhor instrumento que temos para interferirmos na viabilização do Estado construtor e protetor da sociedade. As decepções que tivemos nos últimos meses são lições históricas e a resposta concreta que podemos dar certamente não deve ser a de cruzarmos os braços e "esperarmos para ver como é que fica".
Alternativas de consumo inteligentes, organizações voluntárias atuantes, fiscalização constante das autoridades, meios de comunicação independentes e um modo de vida mais ético são boas pedidas para o recomeço do nosso ano.
Se tudo isso vai dar certo é cedo para se dizer. Mas é melhor pensar nisso desde já.
Nossas reflexões sobre o mundo em que vivemos. Não para encerrar definições, mas para iniciar debates, aumentar as dúvidas e abrir os horizontes. Luís Augusto Fialho de Fialho
01 setembro 2006
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