03 janeiro 2007

BRUTALIDADE E ALENTO

Duas faces da violência marcaram a passagem para o ano novo: uma, a morte por enforcamento de Sadam Houssein, ex-presidente do Iraque; a outra, a série de atentados desencadeados por bandidos no Rio de Janeiro.

Não tentarei encontrar semelhanças entre esses acontecimentos pois isso nada acrescentará em nossa reflexão. Se algo pode unir esse horrível noticiário que recheou a época do revellion é a nossa repulsa ao ato brutal, à lógica da morte, à preguiça do ódio.

A eliminação de Sadam atende aos interesses dos Estados Unidos, não mais por sua importância política ao lado de seus aliados sunitas, que embora minoria, dominaram o Iraque nos anos em que seu líder era apoiado pelos mesmos que hoje o excluíram de cena.

O golpe letal cumpre a emergência do governo Bush em oferecer à sociedade americana uma indicação da possibilidade de desfecho para uma invasão malsucedida ao Iraque, que não consegue por fim à enorme crise política e social daquele país.

O pretexto da vingança contra o líder sanguinário é mote para o arrefecimento das críticas à improdutividade da presença das forças americanas no Oriente Médio e à improbabilidade de uma solução de curto prazo para a estabilidade política.

No Rio de Janeiro, a surpreendente – se é que ainda podemos nos surpreender – série de ataques dos bandidos feitos aos postos policiais, aos ônibus de passageiros, e outros alvos quaisquer.

No episódio atual chamou a atenção de todos a constatação da existência de milícias – forças paralelas que segundo os meios de comunicação são formadas por membros da própria polícia e de atividades afins – que tomam favelas e bairros do Rio para oferecer a segurança substituindo o Estado de modo ilegal, em troca de taxas abusivas e exploração de serviços “públicos”.

As comunidades sobreviventes ao descaso e ineficiência das instituições, rendem-se às opções existentes – à vigilância autoritária dessas milícias ilegais ou ao cerco desagregador e desumanizante dos traficantes na busca do êxito do seu comercio de drogas ilícitas.

O combate à entrada de armas e a eliminação da rota das drogas ultrapassando a nossa fronteira são desafios importantes. A carência de habitação com urbanidade mínima e de saneamento básico humilham a população favelada.

Não são desprezíveis nesse contexto onde a brutalidade impera, a ausência do Estado protetor, a falta de empregos, a carência de políticas educacionais e esportivas para os jovens, a situação caótica dos hospitais, a escassez de infra-estrutura urbana e o esgotamento dos transportes públicos.

Em meio aos mais diversos problemas que circundam o ambiente das favelas no Rio, um sinal de entendimento entre o governo federal e novo governo estadual sobre formas estratégicas de enfrentá-los, pode ser a semente de esperança que faltava àquela população, cansada da humilhação e do desprezo governamental.


Um novo alento aos que querem viver em paz na cidade maravilhosa, o momento pode ser o início de uma caminhada mais sóbria, porém planejada e eficaz dos governantes e da sociedade, para o estabelecimento de um outro nível de civilidade, com mais dignidade e segurança para os cidadãos fluminenses.

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