23 julho 2007

LIÇÕES DA SEMANA

Imagens chocantes, depoimentos desesperadores, opiniões emocionais, discursos burocráticos, realidade devastadora.

A semana do maior acidente aeronáutico brasileiro é o ápice de uma repetitiva cadeia de desencontradas ações e estapafúrdias explicações, na quase aniversariante crise aérea nacional.

Da impossibilidade de explicar acidentes aéreos à incapacidade de gestão da infra-estrutura da aviação comercial, seguem-se uma sucessão de erros, manifestações descabidas das autoridades governamentais, decisões descoladas da realidade e miopia dos interesses comerciais.

A desfaçatez dos gestos dos dirigentes diante da fragilidade das pessoas que à própria sorte, sentiram na pele o efeito dramático da desgovernança é assustadora. A desconsideração ante a consternação que tomou conta da sociedade indigna a todos.

Noutro lado da explosão consumista dos vôos domésticos, estão as empresas aéreas e sua voracidade na obtenção de lucros resultantes da exaustão das rotas, da concentração das conexões em Congonhas, da redução obsessiva de custos, da construção artificial de uma imagem voltada para a atenção ao cliente, que se desfaz facilmente ao primeiro pedido de informações, que não se sustenta no primeiro sinal de dificuldade.

É certo que não visualizamos a totalidade dos interesses atingidos desde o acidente do avião da Gol, ano passado, quando se tornaram vilões os pilotos americanos, os controladores, os militares, os governantes.

Num país com tantas carências e desigualdades sociais, com aspirações ao crescimento econômico, pensar a infra-estrutura de transportes de modo amplo, com planos consistentes e de longo prazo é tarefa urgente.

A manutenção dos aeroportos, a eficácia dos centros de controle do espaço aéreo, a efetividade dos controladores, são atribuições mínimas para a sobrevivência de um sistema de transporte aéreo minimamente respeitável.

Alternativas de transportes com trens rápidos, desconcentração das rotas aéreas, interiorização do desenvolvimento fazem parte um movimento indispensável de melhoria da qualidade de vida nas metrópoles.

O enorme paradoxo que se evidencia nessas situações de crise é o conflito entre a crescente participação política e exercício da cidadania pela população e a despudorada conveniência das elites e dos políticos em emitir sinais descompromissados em relação aos fatos concretos.

A reincidente ausência de informações, a omissão e a fragilidade das autoridades para tomada de decisões que defendem o interesse público, a conivência com a popularização desenfreada do transporte aéreo independente de uma fiscalização e estrutura compatível com a demanda estimulada pela guerra de preços são ingredientes sempre presentes nessa interminável e problemática relação entre o governo, as empresas aéreas e a população.

As lições da última semana foram muito duras. Se vamos ultrapassar a perplexidade e a comoção para atitudes melhores na ética comercial e nas funções públicas só o tempo irá dizer. É o mínimo que podemos fazer em nome dos que perderam suas vidas em conseqüência da passividade nacional diante de tão significativos desafios.

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