06 março 2007

A MOSCA AZUL

Teve uma especial importância para mim, a leitura de “A Mosca Azul”, de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto - livro que recebi do meu amigo Max. Trata-se de um depoimento importante sobre a história do Brasil nos últimos quarenta anos, pela ótica de um religioso de tendência esquerdista, defensor do socialismo e comprometido com transformações da sociedade brasileira.

Não há a preocupação de esmiuçar conceitos filosóficos, nem precisar acontecimentos históricos, mas sim, destacar idéias que mobilizaram as pessoas a construírem um país diferente, num determinado contexto, sob determinadas condições.

A conjugação de circunstâncias históricas que culminaram com a eleição de um operário metalúrgico à presidência da república – feito que independente de qualquer posicionamento partidário tem significado extraordinário – jamais se repetirá.

A resistência à ditadura, o retorno dos expatriados, a construção da legalidade democrática, a expansão dos movimentos populares, religiosos e sindicais no interior da sociedade, a mobilização dos trabalhadores urbanos e agricultores, tudo concorreu para a conscientização cidadã e a geração de expectativas superiores para o desenvolvimento do país.

Quando o partido que majoritariamente atraiu para si a liderança desse processo libertário esbaldou-se nas regalias do poder central e inibiu-se de sua história socialista, os sonhos se desvaneceram, a utopia ficou ainda mais distante e precipitou-se sobre nós o sentimento de que décadas de dedicação aos mais nobres valores humanos foram perdidos, ou pelo menos, preteridas pela complacência com o “status quo”.

Em sua sensatez, Frei Betto chama a atenção para a perenidade da opção pelos mais pobres, para a integridade das atitudes solidárias, para a permanência da aspiração socialista.

Não há motivos para nos acomodarmos aos refrões que apontaram nos últimos anos o fim dos sonhos, a queda dos muros, a globalização das mentes.

Não queremos ser cúmplices de uma sociedade que idolatra o lucro, padroniza o consumo, e incute nas crianças desde cedo a obsessão pela propriedade como instrumento de afirmação na sociedade.

Rejeitamos a miséria que nos envergonha enquanto humanos, sabendo que ela é resultado da concentração capitalista, de sistemas de produção que se transfiguram, mas não mudam na sua essência.

A humanidade que existe em nós é testemunha do que sentimos quando países de excessivo poder econômico e bélico impõem seus interesses a qualquer custo sobre os que mal podem defender-se, em que pese suas eventuais excêntricas arrogâncias.

Por tudo isso, quando as decepções parecem sobrepujar as convicções, prestemos atenção aos inumeráveis exemplos de participação criativa das comunidades, da avassaladora proliferação do voluntariado, do crescente aperfeiçoamento da participação popular nas decisões locais, do inegável aprendizado que o exercício da cidadania tem significado para todos nós, da incansável defesa da natureza pelos ambientalistas, e de tantos, que como nós, sonham com dias melhores.

O poder de mudar as coisas está tão presente entre nós, que nos excedemos em controlá-lo, evitando o desafio de um diálogo, a iniciativa de uma atitude criadora, a diferença de pensar o novo, o compromisso com a nossa identidade. Ou será que também fomos picados pela “mosca azul” ?

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